Kardec e a história dos livros queimados.

Em São Paulo, temos o Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo – Eduardo Carvalho Monteiro – CCDPE-ECM. Não se trata de um Centro Espírita, mas sim de um núcleo de desenvolvimento e disseminação da cultura espírita. Dentro dessa perspectiva, o CCDPE-ECM, busca trazer a atualidade a história do espiritismo, e todo conhecimento que foi produzido ainda que nas primeiras horas da Doutrina Espírita, despertando os espíritas para o estudo, atendendo a máxima que Allan Kardec deixou para orientar-nos: "Espíritas, Amai-vos e Instruí-vos". O surgimento de uma entidade do porte do CCDPE-ECM significa uma busca por alcançar uma igualdade nos três aspectos que sustentam a proposta trazida por Kardec. E com muita satisfação, o Centro Espírita Ismael recebe da presidente do CCDPE-ECM, JULIA NEZU ( * ), o artigo "150 anos do Auto de Fé de Barcelona", que foi publicado no site da entidade (http://www.ccdpe.org.br/). Neste artigo, a história da queima de livros e a perseguição ao Espiritismo, no século XVIII. São detalhes importantes de estudos aos seguidores da Doutrina.
150 anos do auto de fé de Barcelona Na Revue Spirite, de novembro de 1862, Allan Kardec relata aos leitores dobre a queima dos livros espíritas, que ficou conhecido como o auto-de-fé de Barcelona.  Ele escreve na revista que lhe foi narrado o seguinte: "Este dia, nove de outubro de mil oitocentos e sessenta e um, às dez horas e meia da manhã, sobre a esplanada da cidade de Barcelona, no lugar onde são executados os criminosos condenados ao último suplício e por ordem do bispo desta cidade, foram queimados trezentos volumes e brochuras sobre o Espiritismo, a saber; A Revista Espírita, diretor Allan Kardec; A Revista Espiritualista, diretor Piérard; O livro dos Espíritos, por Allan Kardec; O Livro dos Médiuns, pelo mesmo; O que é o Espiritismo, pelo mesmo; Fragmento de sonata, ditado pelo Espírito de Mozart; Carta de um católico sobre o Espiritismo, pelo doutor Grand; A História de Jeanne d'Arc, ditada por ela mesma à Srta. Ermance Dufaux; A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta, pelo barão de Guldenstubbé. Assistiram ao auto de fé um padre revestido das roupas sacerdotais, trazendo a cruz numa mão e a tocha na outra mão; um notário; um empregado superior da administração da alfândega e três moços (serventes) da alfândega, encarregados de manter o fogo; um agente da alfândega representando o proprietário das obras condenadas pelo bispo."
Conta ainda que uma multidão inumerável encontrava-se sobre os passeios e cobria a imensa esplanada onde se elevava a fogueira. Quando o fogo consumiu os trezentos volumes ou brochuras Espíritas, o padre e seus ajudantes se retiraram, cobertos pelas vaias e as maldições dos numerosos assistentes que gritavam: Abaixo a inquisição! Numerosas pessoas, em seguida, se aproximaram da fogueira, e recolheram as suas cinzas. Kardec recebeu uma parte dessas cinzas e com elas se encontrava um fragmento de O Livro dos Espíritos consumido pela metade e narra que o conservou numa urna de cristal como um testemunho autêntico desse ato insensato. Zeus Wantuil, no artigo Centenário de um auto de fé, em Reformador de 1961, pág.217/21, informa que a urna foi destruída pelos nazistas na 1ª. Grande Guerra
A História conta que havia dois tipos de auto de fé, os públicos e os privados. Essa expressão diz respeito a uma espécie de ritual de penitência pública, ou humilhação de heréticos, utilizado na inquisição. Portugal e Espanha foram os países que mais adotaram essa prática. Em 1481, em Sevilha, pela primeira vez, foram executados seis homens e mulheres. Em outros países, inclusive no continente americano têm-se notícias de auto de fé. No caso dos espíritas, queimaram-se lhe os livros na pretensão de queimar as ideias espíritas.
Em obras Póstumas, na segunda parte, encontramos dois relatos. O primeiro datado de 21 de setembro de 1861, quando Kardec tomou conhecimento da apreensão dos referidos livros e o Espírito Verdade, por meio do médium Sr. d'A…lhe disse que se quisesse, por direito, poderia reclama-los e que conseguiria que lhe fossem restituídos os livros, dirigindo-se ao Ministro de Estrangeiros da França, mas que segundo seu parecer, desse auto de fé resultaria maior bem do que o que adviria da leitura dos volumes. Acrescentou ainda que, a queima dos livros determinaria uma grande expansão das ideias espíritas e uma procura imensa das obras dessa doutrina. E foi o que, de fato, aconteceu nos anos seguintes.
Os principais jornais da Espanha deram a noticia de forma minuciosa, com ecos na Europa e em diversas partes do mundo. Assim, na Espanha, não obstante as dificuldades ocorridas nos anos e décadas seguintes, escreve Florentino Varrera, no seu livro Auto de Fé em Barcelona, editado na Argentina em 1926, traduzido para o português e publicado pelo Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carvalho Monteiro, de São Paulo – SP, em 2007, foram fundados 14 periódicos, 15 na América Latina, 46 na Europa continental em mais de dez idiomas, dois na África, dois na Ásia e um na Oceania, que somados aos de origem britânica e norte-americanos chegaram a mais de uma centena de publicações independentes.
Kardec noticia na Revista Espírita, de agosto de 1862, que o Bispo que mandou queimar os livros espíritas, desencarnou no dia nove de agosto daquele ano, ou seja, um pouco mais de nove meses após e dá uma comunicação espontânea por um dos médiuns a Kardec, respondendo-lhe as perguntas que tinha preparado mas que não necessitou fazê-la porque o bispo se antecipa. Ele diz: "Orai por mim; orai, porque ela é agradável a Deus, a prece que lhe dirige o perseguido pelo perseguidor e termina dizendo "Aquele que foi bispo e que não é mais um penitente".
(*) JULIA NEZUEspírita desde a década de 70, advogada, palestrante, divulgadora e articulista da Imprensa espírita. Além de presidente do CCDPE-ECM, está como diretora das USE-União das Sociedades Espíritas do Estados de São Paulo. Ministra há diversos anos cursos e palestras sobre o Espiritismo em todo o Brasil.

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