José Pedro de Freitas nasceu em Congonhas do Campo, MG, em
18/10/1921. Célebre médium e dirigente do Centro Espírita Jesus Nazareno,
ganhou fama internacional devido a milhares de cirurgias realizadas por
intermédio de um espírito alemão, denominado Dr. Fritz. Foi contemporâneo e
amigo de Chico Xavier, Divaldo Franco e Herculano Pires, destacados espíritas
da época.
Filho de Maria André de Freitas e Antônio de Freitas
Sobrinho, família humilde de sitiantes. Estudou até o 3º ano do curso primário
e recebeu o apelido “Arigó”, que significa roceiro, matuto, analfabeto. Aos 15
anos ingressou numa empresa de mineração, onde trabalhou por 6 anos, e prestou
concurso para trabalhar como funcionário público no IAPTC, atual INSS, onde
permaneceu até o fim da vida. A partir de 1950 passou a sentir fortes dores de
cabeça, ter visões de uma brilhante luz e ouvir uma voz gutural em outro
idioma. Acreditou encontrar-se à beira da loucura e procurou tratamento por 3 anos
sem melhora ou diagnóstico.
Em seguida teve um sonho nítido, junto com a voz que o
atormentava, vendo uma pessoa robusta e calva, com avental branco
supervisionando alguns médicos e enfermeiros numa sala cirúrgica em torno de um
paciente. O sonho se repetiu mais algumas vezes e o personagem apresentou-se
como o médico alemão Adolph Fritz, falecido durante a I Guerra Mundial sem
completar sua obra. Mesmo ignorando o idioma, Arigó compreendeu a mensagem que
lhe foi dirigida. Ele fora escolhido como médium para completar a obra do
médico. Nessa tarefa ele seria ajudado por outros médicos e enfermeiros.
Acordou do sonho assustado e saiu correndo pela rua aos
gritos e, de volta à sua casa, chorou copiosamente. Novos exames clínicos e
psicológicos foram realizados sem sucesso, contando até com sessões de
exorcismo feitas por um padre. Desesperado e sofrendo as interferências do Dr.
Fritz, decidiu experimentar as orientações. Pediu a um amigo aleijado para
largar as muletas e caminhar. Deu-se o “milagre” e o amigo passou a andar. A
partir daí, começou a sentir uma força estranha em suas mãos e um impulso
dirigido a procedimentos cirúrgicos no atendimento aos enfermos.
Em 1950 conheceu Carlos Alberto Lúcio Bittencourt,
candidato a deputado federal e futuro senador, diagnosticado com um câncer no
pulmão e recomendação para uma cirurgia imediata. Devido a campanha eleitoral,
o político adiou a cirurgia e convidou Arigó (ex-líder sindical) para realizar
comícios em Belo Horizonte. Os dois hospedaram-se no mesmo hotel e na
madrugada, segundo relato do próprio político, ele viu a porta de seu quarto se
abrir e sentiu a presença de um vulto, que parecia ser Arigó, com uma navalha
na mão. Tentou levantar-se, mas sentiu-se dominado por uma prostração que o fez
cair adormecido sobre a cama. Na manhã seguinte, acordou com o pijama sujo de
sangue e cortado nas costas. O tumor fora removido e o político foi curado.
A fama logo se espalhou e ele abriu uma clínica em
Congonhas, atendendo gratuitamente até 200 pessoas por dia. Vinha gente de
todos os Estados, EUA, Europa, incluindo Argentina e Chile, que mantinham linha
de ônibus regular e direta. O atendimento a numerosos enfermos incomodou os médicos
e a Associação Médica de Minas Gerais instaurou um processo acusando-o de
curandeirismo. Em 1958 foi condenado a 15 meses de prisão, mas foi indultado
pelo presidente Juscelino Kubistschek, cuja filha também foi curada pelo
médium. Em novo processo (1964) foi preso de novo e recusou o indulto alegando
que “indulto é para criminoso”. Detido por 7 meses, passou a atender alguns
enfermos dentro da prisão. Ao ser libertado teve a fama alavancada.
Pouco depois o fenômeno despertou interesse científico internacional.
Henri Belk, pesquisador de fenômenos paranormais e Andrija Puharich,
especialista em bioengenharia, acompanhados por Jorge Rizzini, conhecido
pesquisador espírita, iniciaram uma pesquisa com Arigó. Na ocasião, o Dr.
Puahrich teve extraído um lipoma de seu cotovelo num procedimento indolor, em
apenas 5 segundos, com um canivete. A cirurgia foi filmada e causou espanto na
comunidade científica. Em 1968, mais 2 médicos (Laurence John e P. Aile
Breveterd) da William Benk Psychic Foundation vieram investigar o fenômeno. Não
alcançaram uma explicação conclusiva, mas comprovaram que a prática do médium
não comportava ilusionismo ou feitiçaria, declarando que 95% dos diagnósticos
do médium eram corretos e que suas cirurgias só eram possíveis devido à sua
sensibilidade, explicável apenas à luz da parapsicologia
Arigó faleceu em 11/1/1971 num acidente de carro e teve sua
vida esmiuçada pela imprensa, em diversos artigos acadêmicos e biografias:
COMENALE, Reinaldo. Zé Arigó, a oitava maravilha. B.Horizonte (1968), Ed. Boa
Imagem, com prefácio de Chico Xavier; FULLER, John Grant. Arigo: surgeon of the
rusty knife. New York (1974), Ed. Thomas Y. Crowell; OLIVEIRA, Leida Lúcia.
Cirurgias espirituais de José Arigó. B. Horizonte (2014), AME Editora. A
história do espírito Arigó ficou a cargo de seu amigo e pesquisador José
Herculano Pires, com o livro que se tornou clássico na literatura sobre o
espiritismo: Arigó: vida, mediunidade e martírio, reeditado diversas vezes e
pode ser consultado gratuitamente na Internet.
O fenômemo Arigó durou de 1950 a 1970 e passou mais de 50
anos esquecido do grande público. Agora há pouco, em meados de 2019, o cinema
veio resgatar sua história com o filme Predestinado: Arigó e o espírito do Dr,
Fritz, previsto para exibição em 2021, ano do centenário do médium. Porém, a
pandemia interrompeu o projeto, que foi adiado para setembro de 2022. Trata-se
de um belo filme dirigido por Gustavo Fernandez numa coprodução da Paramount
Pictures e Camisa Listrada, contando com grande elenco.