Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho é um livro
ditado pelo Espírito Humberto de Campos ao médium Francisco Cândido Xavier,
cuja primeira edição foi publicada em 1938. É a história política, econômica e
social do Brasil, vista pelos olhos da espiritualidade.
Segundo o Espírito Humberto de Campos, Jesus, depois de
constatar que as nações europeias estavam dominadas pelo egoísmo, orgulho e
vaidade de seus habitantes traça, juntamente com Helil, um novo roteiro para o
desenvolvimento espiritual dos terráqueos. Nesse mister, as noites de Cabral,
povoadas de sonhos sobrenaturais, são os sinais do plano espiritual no sentido
de desviar as caravelas do caminho das Índias para o coração geográfico do
Brasil, que deveria permanecer intacto.
Para tanto, incumbiu o Espírito Ismael de reunir os
sedentos de justiça divina (degredados), os simples de coração (índios), os
humildes e aflitos (escravos), pois queria edificar sobre a rocha firme o
alicerce espiritual do povo brasileiro.
Os holandeses, franceses e espanhóis forneceram subsídios
valiosos para a nossa formação mesclada. Villegaignon, por exemplo, deu mostras
de uma mentalidade religiosa e honesta. João Maurício, príncipe de Nassau, cuja
estada no Brasil fora preparada no plano espiritual teve a incumbência de desenvolver
os germes do amor, respeito, tolerância e liberdade.
O capítulo 19 trata da "Independência do Brasil".
"O movimento da emancipação percorria todos os
departamentos de atividades políticas da pátria; mas, por disposição natural,
era no Rio de Janeiro, cérebro do país, que fervilhavam as ideias libertárias,
incendiando todos os espíritos. Os mensageiros invisíveis desdobravam sua ação
junto de todos os elementos, preparando a fase final do trabalho da
independência, através dos processos pacíficos.
Os patriotas enxergavam no Príncipe D. Pedro a figura
máxima, que deveria encarnar o papel de libertador do reino do Brasil. O
príncipe, porém, considerando as tradições e laços de família, hesitava ainda
em optar pela decisão suprema de se separar, em caráter definitivo, da direção
da metrópole.
Conhecendo as ordens rigorosas das Cortes de Lisboa, que
determinavam o imediato regresso de D. Pedro a Portugal, reúnem-se os cariocas
para tomarem as providências de possível execução e uma representação com mais
de oito mil assinaturas é levada ao príncipe regente, pelo Senado da Câmara,
acompanhado de numerosa multidão, a 9 de janeiro de 1822. D. Pedro, diante da
massa de povo, sente a assistência espiritual dos companheiros de Ismael, que o
incitam a completar a obra da emancipação política da Pátria do Evangelho,
recordando-lhe, simultaneamente, as palavras do pai no instante das despedidas.
Aquele povo já possuía a consciência da sua maioridade e nunca mais suportaria
o retrocesso à vida colonial, integrado que se achava no patrimônio das suas
conquistas e das suas liberdades. Em face da realidade positiva, após alguns
minutos de angustiosa expectativa, o povo carioca recebia, por intermédio de
José Clemente Pereira, a promessa formal do príncipe de que ficaria no Brasil,
contra todas as determinações das Cortes de Lisboa, para o bem da coletividade
e para a felicidade geral da nação. Estava, assim, proclamada a independência
do Brasil, com a sua audaciosa desobediência às determinações da metrópole
portuguesa.
Todo o Rio de Janeiro se enche de esperança e de alegria.
Mas, as tropas fiéis a Lisboa resolvem normalizar a situação, ameaçando abrir
luta com os brasileiros, a fim de se fazer cumprirem as ordens da Coroa. Jorge
de Avilez, comandante da divisão, faz constar, imediatamente, os seus
propósitos, e, a 11 de janeiro, as tropas portuguesas ocupam o Morro do
Castelo, que ficava a cavaleiro da cidade. Ameaçado de bombardeio, o povo
carioca reúne as multidões de milicianos, incorpora-os às tropas brasileiras e
se posta contra o inimigo no Campo de Santana. O perigo iminente faz tremer o
coração fraterno da cidade. Não fosse o auxílio do Alto, todos os propósitos de
paz se teriam malogrado numa pavorosa maré de ruína e de sangue. Ismael açode
ao apelo das mães desveladas e sofredoras e, com o seu coração angélico e
santificado, penetra as fortificações de Avilez e lhe faz sentir o caráter
odioso das suas ameaças à população. A verdade é que, sem um tiro, o chefe
português obedeceu, com humildade, à intimação do Príncipe D. Pedro,
capitulando a 13 de janeiro e retirando-se com as suas tropas para a outra
margem da Guanabara, até que pudesse regressar com elas, para Lisboa.
Os patriotas, daí por diante, já não pensam noutra coisa
que não seja a organização política do Brasil. Todas as câmaras e núcleos
culturais do país se dirigem a D. Pedro em termos encomiásticos, louvando-lhe a
generosidade e exaltando-lhe os méritos. Os homens eminentes da época, a cuja
frente somos forçados a colocar a figura de José Bonifácio, como a expressão
culminante dos Andradas, auxiliam o príncipe regente, sugerindo-lhe medidas e
providências necessárias. Chegando ao Rio por ocasião do grande triunfo do
povo, após a memorável resolução do "Fico", José Bonifácio foi feito
ministro do reino do Brasil e dos Negócios Estrangeiros. O patriarca da
independência adota as medidas políticas que a situação exigia, inspirando, com
êxito, o príncipe regente nos seus delicados encargos de governo.
Gonçalves Ledo, Frei Sampaio e José Gemente Pereira,
paladinos da imprensa da época, foram igualmente grandes propulsores do
movimento da opinião, concentrando as energias nacionais para a suprema
afirmação da liberdade da pátria.
Todavia, se a ação desses abnegados condutores do povo se
fazia sentir desde Minas Gerais até o Rio Grande do Sul, o predomínio dos
portugueses, desde a Bahia até o Amazonas, representava sério obstáculo ao
incremento e consolidação do ideal emancipacionista. O governo resolve
contratar os serviços das tropas mercenárias de Lorde Cochrane, o cavaleiro
andante da liberdade da América Latina. Muitas lutas se travam nas costas
baianas e verdadeiros sacrifícios se impõem os mensageiros de Ismael, que se
multiplicam em todos os setores com o objetivo de conciliar seus irmãos
encarnados, dentro da harmonia e da paz, sempre com a finalidade de preservar a
unidade territorial do Brasil, para que se não fragmentasse o coração
geográfico do mundo.
José Bonifácio aconselha a D. Pedro uma viagem a Minas
Gerais, a fim de unificar o sentimento geral em favor da independência e
serenar a luta acerba dos partidarismos. Em seguida, outra viagem, com os
mesmos objetivos, realiza o príncipe regente a São Paulo. Os bandeirantes, que
no Brasil sempre caminharam na vanguarda da emancipação e da autonomia,
recebem-no, com o entusiasmo da sua paixão libertária e com a alegria da sua
generosa hospitalidade e, enquanto há música e flores nos teatros e nas ruas
paulistas, comemorando o acontecimento, as falanges invisíveis se reúnem no
Colégio de Piratininga. O conclave espiritual se realiza sob a direção de
Ismael, que deixa irradiar a luz misericordiosa do seu coração. Ali se
encontram heróis das lutas maranhenses e pernambucanas, mineiros e paulistas,
ouvindo-lhe a palavra cheia de ponderação e de ensinamentos. Terminando a sua
alocução pontilhada de grande sabedoria, o mensageiro de Jesus sentenciou:
— A independência do Brasil, meus irmãos, já se encontra
definitivamente proclamada. Desde 1808, ninguém lhe podia negar ou retirar essa
liberdade. A emancipação da Pátria do Evangelho consolidou-se, porém, com os
fatos verificados nestes últimos dias e, para não quebrarmos a força dos
costumes terrenos, escolheremos agora uma data que assinale aos pósteros essa
liberdade indestrutível.
Dirigindo-se ao Tiradentes, que se encontrava presente,
rematou:
— O nosso irmão, martirizado há alguns anos pela grande
causa, acompanhará D. Pedro em seu regresso ao Rio e, ainda na terra generosa
de São Paulo, auxiliará o seu coração no grito supremo da liberdade. Uniremos
assim, mais uma vez, as duas grandes oficinas do progresso da pátria, para que
sejam as registradoras do inesquecível acontecimento nos fastos da história. O
grito da emancipação partiu das montanhas e deverá encontrar aqui o seu eco
realizador. Agora, todos nós que aqui nos reunimos, no sagrado Colégio de
Piratininga, elevemos a Deus o nosso coração em prece, pelo bem do Brasil.
Dali, do âmbito silencioso daquelas paredes respeitáveis,
saiu uma vibração nova de fraternidade e de amor.
Tiradentes acompanhou o príncipe nos seus dias faustosos,
de volta ao Rio de Janeiro. Um correio providencial leva ao conhecimento de D.
Pedro as novas imposições das Cortes de Lisboa e ali mesmo, nas margens do
Ipiranga, quando ninguém contava com essa última declaração sua, ele deixa
escapar o grito de "Independência ou Morte!", sem suspeitar de que
era dócil instrumento de um emissário invisível, que velava pela grandeza da
pátria.
Eis por que o 7 de Setembro, com escassos comentários da
história oficial que considerava a independência já realizada nas proclamações
de 1.° de agosto de 1822, passou à memória da nacionalidade inteira como o Dia
da Pátria e data inolvidável da sua liberdade.
Esse fato, despercebido da maioria dos estudiosos,
representa a adesão intuitiva do povo aos elevados desígnios do mundo
espiritual".
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