Dando continuidade às colaborações de nosso companheiro Marcelo Stanczyk, apresentamos novo artigo com referências ao capítulo 1. da obra em análise (Livro "REFORMA ÍNTIMA SEM MARTÍRIO", de Ermance Dufaux, psicografia de Wanderley S. de Oliveira), que trata das "Dores do martírio", assim como a introdução do livro, também permite uma outra série de reflexões importantes. A primeira delas, que é destaque no artigo é a questão da dor em nossa vida. Ou seja, qual a posição dela para nós… No que cremos que ela nos serve.
"Via de regra enxergamos a dor como um dispositivo de aviso, a nos alumiar quando estamos tendo algum problema na nossa lógica de vida em relação as leis divinas. E, até ai, tudo bem. O problema começa quando a dor e o sofrimento deixa de ser esse alerta para passar a ser simplesmente aceito, quando não mesmo desejado.
Somos espíritos em processo de formação, e por conta disso, dispomos de muitas ferramentas para manuseio, dos quais nem sempre temos total e completo conhecimento de como aplicá-las em nosso benefício. Algumas nos são mais familiares, outras menos. Cada pessoa possui seu mundo íntimo pessoal e individual. Entre essas ferramentas encontramos a dor e o sofrimento.
Por processo natural, toda evolução causa certo sofrimento e certa dor, porque temos que sair da "zona de conforto" a que estamos acostumados para empreender viagem em outra com o qual pouco hábito temos. Um exemplo clássico é o exercício físico. Na medida em que fazemos mais e mais esforço sentimos os músculos cansados e a dor. Ora, essa dor é parte do processo de crescimento do tecido muscular. É algo natural e absolutamente suportável.
É como o solo que precisa ser arado e rasgado para que se possa plantar a semente e ela germinar com eficiência.
É muito comum passarmos por sofrimentos. E todos eles parecerem ser maior que nossa capacidade de resistir, mas com um breve tempo solucionamos o impasse e a dor some… e o sofrimento sucumbe e vai-se.
Essa espécie de sofrimento que vem do crescimento é muito salutar e, sem a sua existência, muito dificilmente perceberiamos que temos coisas a corrigir e se corrigimos adequadamente. É um sinaleiro que o caminho percorrido foi planejado e executado com sucesso.
Só que não existe apenas essa espécie de sofrimento. Existe outro, produto humano, em contra ponto ao oriundo da natureza.
Muitos, reconhecendo o valor do sofrimento e da dor, no afã de serem mais "eficazes" e mais "produtivos" naquilo que deveria ser naturalmente realizado, começaram a idolatrar a dor, como se ela fosse o único caminho que conduziria o homem a elevação espiritual. Tratam-na como uma verdadeira "Santa' a conduzí-los a perfeição, e ao final vêem-se aturdidos porque o caminho até onde essa os acompanhou nada tem de evoluído.
O culto a dor é um grave erro para as pessoas, visto que, em primeiro lugar, Deus não nos criou para o sofrimento ou para a dor. Ela existe, mas não é condição indispensável. Mais a mais, como avaliar a autoflagelação? O quanto sofrer? Até onde sofrer? Punir-se dessa forma com o intuito de "purificar", ainda como entendem outros, é um absurdo ainda maior. Faz-nos crer um ser imperfeito a quem Deus apenas ofereceu um caminho para seguir. Outro engano, que a Codificação alerta: "Espírita, amai-vos e instruí-vos. Nada se fala sobre sofrimento.
"Fora da caridade não há salvação." Nada se fala de dor.
E nesse entendimento equivocado de que qualquer dor liberta e que devemos idolatrar o caminho que ela nos faz percorrer, acabamos criando a dor que não corrige, ou seja, a dor que serve como elemento de justificativa para nossa incapacidade e serve para "negociarmos" com nossas consciências em favor de uma suposta paz imerecida, equivocada e que nos faz perder tempo.
O árduo caminho da ascensão, de fato, pode nos pregar peças do tipo: "sentimento de inferioridade, com os quais é preciso aprender a lidar, também, como etapa de aprendizado. Esse sentimento de inferioridade deve servir apenas como um equipamento de aferição de nossas reais potencialidades, mas não como um qualificador de nossa condição, posto que primeiro, ninguém nasce superior, sendo essa situação produto do esforço contínuo dentro do processo de sermos melhores amanhã que hoje e hoje que ontem, e, segundo, essa condição não é permanente, mas sim altera-se o quadro na medida em que vivemos e nos modificamos.
Não há motivo para dar mais valor ao sofrimento e a dor do que eles realmente possuem e devem possuir.
E, muito menos ficarmos buscando "veios" de condições para sofrermos, crendo que assim estamos "queimando" o karma ou "pagando" nossas dívidas com a Justiça Divina. Enxerga muito mal quem vê seus esforços por esse prisma, sob esse enfoque, com essa lente… Nós não somos "julgados" por Deus, ou quem quer seja, a ponto de termos que sofrer ou sentir dores como forma de punição. Deus não criou o Universo para punir quem quer que seja. A criação tem como finalidade a evolução… o Crescimento… o desenvolvimento. Nossos erros são etapas no processo de evoluir, que devemos corrigir, mas não são exatamente causas de sofrimento punitivo. Ele sequer existe. Pensar em um Deus punitivo é pensar em um Deus que não é bom… nem justo e muito menos misericordioso.
Pensar num Deus que se apraz com nosso sofrimento… que se alegra ao ver lágrimas correndo nas faces dos seres humanos, é pensar em um ser moralmente menos evoluido que um homem. Porque muitos, diante da dor, se unem para combatê-la e do sofrimento, do esforço… da união… aí sim sai a alegria, são o sorriso dos vitoriosos. Mas uma vitória que não é realizada em função do outro, em relação ao mundo externo, mas sim uma vitoria interna de condições naturais de bondade e amor que as pessoas resolvem fazer frutificar.
Se entendemos que Deus não se alegra com nosso sofrimento, tudo que fizermos para afastá-lo de nós e do próximo (e do longe também) é considerado como um ato caridoso, muito indicado como forma de aprendermos a adquirir qualidades que ainda não temos. Aliás, qualidade… essa é a plavra chave. O sofrimento quando surge… a dor quando dilacera… ela exige de nós que adquiremos qualidades… que transformemos defeitos em qualidades, que nos modifiquemos. E modificar-se não significa extrair de nós a parcela com defeito, mas sim, alterá-la para que o defeito desapareça.
Todo sinal de sofrimento e de dor denuncia um corpo doente… uma alma doente… que precisa de cura. E estar doente é um processo onde a saúde deixou total ou parcialmente aquela pessoa. Saúde essa representada pelo equilibrio de energias físicas, emocionais, mentais e espirituais. Deixar de estar doente… eliminar a dor e o sofrimento, então, seria o processo de reconduzir a saúde ao corpo ou a alma… reequilibrar-se em todos os aspectos que estejam disformes.
Essa é a finalidade da dor… esse é o benefício do sofrimento… E, como muito bem explicitado na lição, "somente a dor que educa liberta". E, não precisamos procurar ela. E, nem outra dor ou sofrimento. Precisamos sim procurar nossa educação e com ela eliminarmos quaisquer nesgas de dor, sofrimento e doença de nossas vidas".
(Marcelo Stancyk – 05/03/2012)
Nota do Editor:
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