O perfil do "Médico dos Pobres" - Parte 2/2 - Final

Dando continuidade, apresentamos a parte 2 / final  da biografia/perfil  de BEZERRA DE MENEZES, com a colaboração de nosso companheiro e instrutor do 1º ano do Curso de Educação Mediúnica, FÁBIO FADEL.   Lembramos ainda do filme/DVD "Bezerra de Menezes – O Diário de um Espírito" (de 2008 com 01 hora e 28 minutos), de Glauber Filho e Joe Pimentel, com o personagem interpretado pelo ator Carlos Vereza. O filme é muito interessante e revela a forte personalidade de Bezerra de Menezes. Esse vídeo pode ser encontrado em locadoras ou baixado na internet.

Perfil de Bezerra de Menezes – Parte 2/2 – final

(continuação)

O conciliador - No ano de 1883, reinava um ambiente francamente dispersivo no seio do Espiritismo no Brasil, e os que dirigiam os núcleos espiritas do Rio de Janeiro sentiam a necessidade de uma união mais estreita e indestrutível. Os Centros Espíritas, onde se ministrava a Doutrina, trabalhavam de forma autônoma. Cada um deles exercia sua atividade em um determinado setor, despreocupado em conhecer as atividades dos demais. Esse estado de coisas levou-os a fundação da Federação Espirita Brasileira (FEB). Nessa época, já existiam muitas sociedades espiritas, porem as únicas que mantinham a hegemonia eram quatro: a Acadêmica, a Fraternidade, a União Espirita do Brasil e a Federação Espirita Brasileira. Entretanto, logo surgiram entre elas rivalidades e discórdias. Sob os auspícios de Bezerra de Menezes, e acatando importantes instruções, dadas por Allan Kardec, através do médium Frederico Júnior, foi fundado o famoso Centro Espirita porem nem por isso deixava Bezerra de dar a sua cooperação a todas as outras instituições.

O entusiasmo dos espíritas logo se arrefeceu, e o velho seareiro se viu desamparado dos seus companheiros, chegando a ser o único freqüentador do Centro. A cisão era profunda entre os chamados "místicos" e "científicos", ou seja, espíritas que aceitavam o Espiritismo em seu aspecto religioso, e os que o aceitavam simplesmente pelo lado científico e filosófico. Em 1893, a convulsão provocada no Brasil pela Revolta da Armada, ocasionou o fechamento de todas as sociedades espíritas ou não. No Natal do mesmo ano Bezerra encerrou a série de "Estudos Filosóficos" que vinha publicando no "O Paiz". Em 1894, o ambiente demonstrou tendências de melhora e o nome de Bezerra foi lembrado como o único capaz de unificar a família espírita. O infatigável batalhador, com 63 anos de idade, assumiu a presidência da Federação Espirita Brasileira.

A volta - Iniciava- se o ano de 1900, e Bezerra de Menezes foi acometido de violento ataque de congestão cerebral, que o prostrou no leito, de onde não mais se levantaria. Verdadeira romaria de visitantes acorria à sua casa. Ora o rico, ora o pobre, ora o opulento, ora o que nada possuía. Ninguém desconhecia a luta tremenda em que se debatia a família do grande apóstolo do Espiritismo. Todos conheciam suas dificuldades financeiras, mas ninguém teria a coragem de oferecer fosse o que fosse, de forma direta. Por isso, os visitantes depositavam suas contribuições, delicadamente, debaixo do seu travesseiro. No dia seguinte, a pessoa que lhe foi mudar as fronhas, surpreendeu- se por ver ali desde o tostão do pobre até a nota de duzentos mil reis do abastado!...

Desencarnou em 11 de abril de 1900. Ocorrida a sua desencarnação, verdadeira peregrinação demandou sua residência a fim de prestar-lhe a última visita. O médium Francisco Cândido Xavier perguntou ao Doutor Bezerra de Menezes qual havia sido a sua maior felicidade ao chegar no mundo espiritual, veja a resposta.

"- A minha maior felicidade, meu filho, foi quando Celina, a mensageira de Maria Santíssima, se aproximou do leito em que eu ainda estava dormindo e tocando-me falou suavemente:

-Bezerra, acorde, Bezerra!

Abri os olhos e vi-a bela e radiosa.

Minha filha, é você Celina?!!!!

-Sim, sou eu, meu amigo. A Mãe de Jesus pediu-me que lhe dissesse que você já se encontra na Vida Maior, havendo ultrapassado a porta da imortalidade. Agora Bezerra, desperte feliz.

Chegaram os meus familiares, os companheiros queridos das hostes espíritas que vinham saudar. Mas eu ouvia um murmúrio, que me parecia vir de fora. Então Celina me disse:

-Venha ver, Bezerra!!!

Ajudando-me a erguer no leito, amparou-me até uma sacada, e eu vi meu filho, uma multidão que me acenava, com ternura e lágrima nos olhos.

- Quem são Celina? – perguntei-lhe – não conheço ninguém. Quem são?

-São aqueles espíritos atormentados, que chegavam às sessões mediúnicas e a sua palavra caiu sobre eles como um bálsamo numa ferida em chaga viva; são os esquecidos da Terra, os destroçados do mundo, a quem você estimulou e guiou. São eles, que o veem saudar no pórtico da eternidade....

E o Doutor Bezerra concluiu:

-A felicidade sem limites existe, meu filho, como decorrência do bem que fazemos, das lágrimas que enxugamos, das palavras que semeamos no caminho, para atapetar a senda que um dia percorremos".

No ano de 1950, em um recinto no Mundo Maior há uma reunião especial, aproximadamente cinco mil espíritos, entre encarnados e desencarnados estão convidados a participar de uma homenagem especial a um apóstolo de Jesus que trabalha nas sombras da Terra. A reunião é grandiosa. Aquele público imenso que repleta o anfiteatro, que tem a forma greco-romana do passado, está ansioso, quando um coral de duzentas vozes infantis começa a entoar o "Aleluia" de Hendel. Adentra-se acompanhado de entidades venerandas, Doutor Bezerra de Menezes em uma indumentária modesta, que faz recordar o linho Belga usado na Terra. A indumentária de tonalidade pérola, a mão direita apoiada na gola do paletó, a cabeça que se move negativamente como a dizer que não merecia tudo aquilo. Começava a reunião que homenageava Bezerra pelos 50 anos de atividades nas terras brasileiras, León Denis é convidado a saudá-lo em nome dos espíritas internacionais e Vianna de Carvalho em nome dos espíritas da pátria do cruzeiro, nesta ordem, cada um sobe à tribuna e fazem exortações a respeito do homenageado.

Logo depois que Vianna de Carvalho encerra, abre-se aquele horizonte infinito do espaço e um jato de luz tomba sobre a multidão. Aparece o ser espiritual superior jovem, Celina, a mensageira de Maria, a mãe de Jesus, que abre um livro imenso de luzes e lê para todos, emocionados:

- Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, a mãe de Jesus manda convidar-te para que saias das sombras do planeta terrestre. Ela te oferece no sistema solar qualquer um dos astros onde queiras reencarnar. Ela concedeu do Filho a permissão para franquear-te noutra esfera, se necessário fora do sistema solar, a oportunidade de crescer de maneira com a misericórdia de Deus, nos rumos do insondável na busca da perfeição.

- Tenho a tarefa de apresentar-te a proposta da Senhora, e levar-Lhe o resultado, depois de ouvir-te.

Bezerra levanta-se, a multidão está impactada, ele abaixa a cabeça e, com voz embargada ao erguer a fronte diz:

- Celina, minha filha, eu não mereço nada disso! Se eu merecesse alguma coisa, se alguma coisa me fosse lícito pedir; se houvesse em mim qualquer atributo que justificasse uma solicitação, eu te pediria levares à Senhora o meu requerimento pedindo misericórdia para as minhas imperfeições e se me fosse lícito pedir algo mais, eu pediria à Maria, a Santíssima, que me facultasse a honra de continuar nas sombras do país verde e amarelo atendendo aos infelizes, e que, ela não me permitir a graça de nunca sorrir enquanto alguém estiver chorando, e que eu não tenha o direito de ser feliz enquanto os meus irmãos do Brasil estejam angustiados. Então intercede tu, minha filha, junto à nossa Mãe para que ela me permita a caridade de permanecer nas terras do cruzeiro até o momento em que o país saia das sombras.

Celina retorna, as vozes infantis erguem-se, as músicas sucedem-se e, de repente, no céu coruscante de estrelas, uma mão empunhando uma pluma antiga escreve:

- Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, o teu requerimento dirigida à Senhora foi deferido. Ficarás nas terras verde-amarelas do Brasil, nas sombras do planeta, atendendo a dor até o ano 2000, quando terás brindado cem anos de abnegação, de renúncia, de doação total.

O estudante de matemática - Digno de registro foi um caso sucedido com o Dr. Bezerra de Menezes, quando ainda era estudante de Medicina. Ele estava em sérias dificuldades financeiras, precisando da quantia de cinquenta mil réis (antiga moeda brasileira), para pagamento das taxas da Faculdade e para outros gastos indispensáveis em sua habitação, pois o senhorio, sem qualquer contemplação, ameaçava despejá-lo. Desesperado - uma das raras vezes em que Bezerra se desesperou na vida - e como não fosse incrédulo, ergueu os olhos ao Alto e apelou a Deus.

Poucos dias após bateram- lhe à porta. Era um moço simpático e de atitudes polidas que pretendia tratar algumas aulas de Matemática. Bezerra recusou, a princípio, alegando ser essa matéria a que mais detestava, entretanto, o visitante insistiu e por fim, lembrando-se de sua situação desesperadora, resolveu aceitar. O moço pretextou então que poderia esbanjar a mesada recebida do pai, pediu licença para efetuar o pagamento de todas as aulas adiantadamente. Após alguma relutância, convencido, acedeu. O moço entregou- lhe então a quantia de cinquenta mil réis. Combinado o dia e a hora para o início das aulas, o visitante despediu-se, deixando Bezerra muito feliz, pois conseguiu assim pagar o aluguel e as taxas da Faculdade. Procurou livros na biblioteca pública para se preparar na matéria, mas o rapaz nunca mais apareceu.

No ano de 1894, em face das dissensões reinantes no seio do Espiritismo brasileiro, alguns confrades, tendo à frente o Dr. Bittencourt Sampaio, resolveram convidar Bezerra a fim de assumir a presidência da Federação Espírita Brasileira. Em vista da relutância dele em assumir aquele espinhoso encargo, travou- se a seguinte conversação:

- Querem que eu volte para a Federação. Como vocês sabem aquela velha sociedade está sem presidente e desorientada. Em vez de trabalhos metódicos sobre Espiritismo ou sobre o Evangelho, vive a discutir teses bizantinas e a alimentar o espírito de hegemonia.

- O trabalhador da vinha, disse Bittencourt Sampaio, é sempre amparado. A Federação pode estar errada na sua propaganda doutrinária, mas possui a Assistência aos Necessitados, que basta por si só para atrair sobre ela as simpatias dos servos do Senhor.

- De acordo. Mas a Assistência aos Necessitados está adotando exclusivamente a Homeopatia no tratamento dos enfermos, terapêutica que eu adoto em meu tratamento pessoal, no de minha família e recomendo aos meus amigos, sem ser, entretanto, médico homeopata. Isto, aliás, me tem criado sérias dificuldades, tornando- me um médico inútil e deslocado que não crê na medicina oficial e aconselha a dos Espíritos, não tendo assim o direito de exercer a profissão.

- E por que não te tornas médico homeopata? disse Bittencourt.

- Não entendo patavinas de Homeopatia. Uso a dos Espíritos e não a dos médicos.

Nessa altura, o médium Frederico Júnior, manifestando o Espírito de S. Agostinho, deu um aparte:

- Tanto melhor. Ajudar-te-emos com maior facilidade no tratamento dos nossos irmãos.

- Como, bondoso Espírito? Tu me sugeres viver do Espiritismo?

- Não, por certo! Viverás de tua profissão, dando ao teu cliente o fruto do teu saber humano, para isso estudando Homeopatia como te aconselhou nosso companheiro Bittencourt. Nós te ajudaremos de outro modo: Trazendo- te, quando precisares, novos discípulos de Matemática . . .

Aos cuidados de Jesus - Certa vez sua esposa foi procurá-lo pois sua filha estava muito doente, ao sair foi chamado por outra mulher, pedindo ajuda para o filho que também adoecera, disse que não pode deixar de atender a quem chama, de modo que entrega a filha a Jesus, e vai até o outro enfermo, ao retornar à casa esperava encontrar a filha morta, mas a doença passara completamente, conclui que Jesus é melhor médico que ele.

O anel de formatura - Ao atender uma mulher, prescreveu os remédios e lhe disse que poderia comprá-los ali mesmo, ao que esta respondeu que não tinha nem para dar o que comer, quanto mais comprar remédios, Bezerra procurou nos bolsos e nada encontrou, olhou em volta e nada viu, reparou então em seu anel de formatura, e deu-o, sem pestanejar.

O abraço - Um homem o procurou dizendo estar desempregado e doente, Bezerra olhou nos bolsos e nada encontrou, perguntou então se ele acreditava em Nossa Senhora, o que ele disse que sim, então lhe deu um abraço dizendo que era em nome dela, e disse para repetir o gesto em casa. Na semana seguinte voltou para agradecer, pois ficou curado e arranjara emprego.

(fim)

( Colaboração: Fabio Fadel – 13/03/2012)

 

 

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