“Essa Profunda Serenidade” é um capítulo do livro Pinga-Fogo
1, em que Chico Xavier é questionado sobre a psicografia de romances.
Presentemente, estamos todos apressados, dando
mais importância à comunicação superficial do que àquela de conteúdo mais
profundo e duradouro.
Observe a situação de Chico Xavier. Desejoso
de psicografar romances, recebeu a seguinte instrução do Espírito Emmanuel: “Para
que você receba romances, você precisa ter a mente em estado de profunda
serenidade. Se você quiser se comprometer a nos oferecer um clima mental
adequado, de paciência e de calma, escreveremos por você algumas de nossas
memórias”.
Pergunta e a resposta
Herculano Pires — Meu caro Chico. — Eu queria perguntar a você o
seguinte: Na imensidade
da sua obra psicográfica e também na profundeza dessa obra, você tem uma
curiosa série de romances que geralmente chamamos de uma série dos romances
romanos de Emmanuel. São romances que se passam na Roma antiga: Há dois mil anos, 50 Anos Depois, Ave Cristo e até mesmo Paulo e Estevão,
que
segundo me parece é a obra-prima
da sua mediunidade no campo da ficção literária, embora eu saiba que os espíritos não têm
a intenção de fazer ficção literária e sim de transmitir às criaturas humanas,
uma mensagem através das suas próprias experiências de vida. Mas eu queria
saber o seguinte: Para escrever esses romances em que figuram não somente as
situações geográficas da Roma antiga, as questões políticas, os problemas
imperiais, você consultou que livros e que bibliotecas?
Chico Xavier —
Não consultei livro algum. Quando ouvi a respeito dos romances mediúnicos
recebidos pela médium Zilda Gama, cuja memória nós todos acatamos muito na
Doutrina Espírita, eu senti aquele desejo de ser médium também para romances,
isso por volta de 1936. Nessa ocasião lidava com um grupo de crianças da
família porque, pelo fato de eu não ter renascido nesta existência para o casamento,
fiquei com 14 crianças, irmãos menores e sobrinhos dos quais presentemente eu
estou distante por haverem crescido e tomado as suas responsabilidades. Nesse
tempo a minha cabeça era atormentada por muitos problemas quando eu anunciei o
desejo de receber romances, o espírito Emmanuel então me explicou: Para que
você receba romances, você precisa ter a mente em estado de profunda
serenidade. Se você quiser se comprometer a nos oferecer um clima mental
adequado, de paciência e de calma, escreveremos por você algumas de nossas
memórias. Mas se puder ou quiser assumir o compromisso. Eu, naquela ocasião,
não conseguia assumir o compromisso porque os problemas domésticos eram muitos.
De modo que 4 anos se passaram e tão somente em 1939 a começar do fim de 1938,
eu assumi com ele o compromisso de me acalmar. Quaisquer que fossem os
problemas dentro de casa, com as crianças que já estavam mais crescidas, eu
ofereceria a ele um campo mental pacificado na oração. Então ele marcou, que eu
me concentrasse durante uma hora por dia e me dispusesse a datilografar outra
hora por dia, durante o tempo em que perdurasse a psicografia do romance. Então
deu o Há 2000 Anos. Eu
acompanhei a psicografia como acompanho também as nossas novelas da TV, com
muito interesse, com muito carinho e torcendo por determinados personagens. Mas
eu lia o que a mão escrevia. Peço permissão para aduzir um
detalhe interessante. Quando o livro começou, ele começa com uma cena de dois
romanos a trocarem ideias no jardim, diante de um céu nebuloso que depois
rebentou numa tempestade. Eu comecei a ver aquela cidade e o céu tempestuoso e
a chuva caindo e aqueles dois homens vestidos à moda antiga, de
túnicas, deitados naqueles sofás longos, comendo frutas com as mãos. Eu me
assustei com aquela visão que parecia uma visão estranha porque estava dentro
de mim e fora de mim. Comecei a assistir só, a um cinema em que eu tomasse
parte na tela e estivesse fora da tela. Então eu me assustei. Parei de
escrever. Então ele me disse: “Você está debaixo de uma certa hipnose. Você
está vendo o que eu estou pensando. Mas não sabe o que eu estou escrevendo.” De
modo que eu vivi muito mais o romance ao recebê-lo, do que ao ler ou reler o
que eu escrevia.
Herculano Pires — Eu
gostaria então que você esclarecesse bem o seguinte,
Chico: Você tinha uma visão assim
cinematográfica do enredo. Você estava vendo
o desenrolar do romance sem saber
bem como, de que maneira. Mas não tinha consciência do que escrevia.
Chico Xavier — Não tinha
consciência do que escrevia e nem da continuidade dos assuntos, porque muitos
dos personagens que me eram simpáticos e que eu não desejava que sofressem,
passaram a sofrer contra a minha vontade.
0 comentários:
Postar um comentário