Sacrifício – Do latim sacrificium significa
o que está relacionado ao ato de fazer com que alguma coisa se torne sagrada.
Sacrificar é converter em sagrado o objeto que será dado em oferta. É o ato
principal de todo culto religioso; é a oferta feita à divindade em certas
cerimônias solenes. Sacrificar-se é crescer; quem cede para os outros adquire
para si mesmo.
Na Antiguidade, os sacrifícios
de animais, crianças, virgens e prisioneiros de guerra eram corriqueiros. No
Antigo Testamento, os sacrifícios eram considerados dons sagrados. Abraão, por
exemplo, por ordem de Deus, quis imolar o seu filho Isaac em holocausto e que
depois foi substituído por um carneiro. No Novo Testamento, a instituição
antiga dos sacrifícios cede lugar ao sacrifício pela Cruz do Cristo. Numa
acepção mais contemporânea, há o holocausto alemão praticado ao povo judeu.
A morte de Jesus na Cruz
representa o móvel da redenção da Humanidade. O símbolo da cruz, em que juntam
o céu e a terra, foi enriquecido prodigiosamente pela tradição cristã,
condensando nessa imagem a história da salvação e a paixão do Salvador. A cruz
simboliza o Crucificado, o Cristo, o Salvador, o Verbo, a segunda pessoa da
Santíssima Trindade. Ela é mais do que uma figura de Jesus, ela se identifica
com sua história humana, com a sua pessoa. Enquanto no passado havia o “olho
por olho e dente por dente”, Jesus ensinou-nos a oferecer a outra face, quando
numa delas alguém nos batesse. Enquanto no passado ofereciam-se animais,
crianças, alimentos, Jesus oferece-nos um único mandamento: cada qual deve carregar
a sua cruz.
Filosoficamente, a coragem para
o sacrifício fundamenta-se no deixar o conhecido, o lugar conquistado, a
comodidade do pensamento vulgar para se aventurar na busca de novos
ensinamentos, novas experiências e novos rumos na vida. “A coragem para o
sacrifício está em acreditar poder de novo outra vez. Poder sempre inaugurar um
novo sentido, ou mesmo repetir o feito e de novo realizar. É dispor-se à vida
que se vive e se realiza vivendo, e compreender que nesse jogo de viver e
realizar jogar o incerto e o inesperado, e que assim devem ser acolhidos”.
(Pizzolante, 2008, p. 188)
Cumpre observar que o
sacrifício não é auto-imposição, mas uma disposição para a abnegação, que é o
afastar-se da arrogância do ficar no já conquistado. O sacrifício assemelha-se
à dor do parto, pois a mãe sofre, mas em seguida vê o rebento vir à luz, que
lhe dá grande alegria. Em nosso caso, o parto refere-se à ideia nova, tal qual
Sócrates fazia na Antiguidade, quando ensinava na praça pública. Sadi, por
outro lado, dizia-nos: “A paciência é uma planta de raízes assaz amargas, mas
de frutos dulcíssimos”.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan kardec ensina-nos que o sacrifício mais
agradável a Deus é o do Ressentimento. Ele expressa o pensamento da seguinte
forma: “Antes de se apresentar a ele para ser perdoado, é preciso ter perdoado,
e que, se cometeu injustiça contra um dos seus irmãos, é preciso tê-la
reparado; só então a oferenda será agradável, porque virá de um coração puro de
todo o mau pensamento” (1984, cap. X, p.134.) Em outras palavras, antes de
entrarmos no templo do Senhor devemos purificar o nosso coração, porque assim
teremos mais condições de entrar em perfeita conexão com os Espíritos
superiores e deles receber inspirações para as nossas boas ações.
O trabalhador da seara
mediúnica não raro registrará as seguintes questões: por que o meu caminho é de
sofrimento? Por que a minha vida está repleta de dor? Onde estão os benfeitores
espirituais? Por que eles não vêm aliviar as minhas amarguras? Lembremo-nos de
que Jesus ensinou que a cruz é o símbolo da redenção do cristão. Os mensageiros
de luz vêm apenas estimular as nossas ações dizendo que deveríamos pegar a
nossa cruz e caminhar com ela, tanto quanto forem os passos que a divindade nos
impuser. E por maior sejam os sacrifícios que teremos de suportar, não cortemos
uma pedaço dela, porque poderá fazer falta quando tivermos que usá-la como
ponte para atravessar o rio.
O sacrifício mais agradável a
Deus é aquele em que o individuo se coloca abertamente para aceitar, sem
desânimo e sem reclamações, a determinação dos Espíritos de luz acerca de sua
missão na terra.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro: FEB, 1995.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.
PIZZOLANTE, Romulo. A Filosofia e a Coragem para o Sacrifício. In: MEES, L. e PIZZOLANTE, R. (org.). O Presente do Filósofo: Homenagem a Gilvan Fogel. Rio de Janeiro:
Mauad X, 2008
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