Obsessão
— o Passe — a Doutrinação
J. Herculano Pires
Conteúdo Resumido
Nesta obra Herculano Pires
discorre sobre o delicado tema da obsessão e suas implicações. Conforme suas
palavras, a obsessão se caracteriza pela ação de entidades espirituais
inferiores sobre o psiquismo humano. Porém, diz o autor, ao contrário do que muitos
imaginam, os espíritos obsessores não são os únicos culpados da obsessão. Não
raro, o maior culpado é a própria vítima.
Herculano descreve, de forma
simples e objetiva, como funciona o processo obsessivo, suas consequências e
como se precaver contra a sua ação maléfica. Demonstra, ainda, o erro das
práticas de exorcismo adotadas por algumas religiões. Enfoca a união da
Psiquiatria e do Espiritismo na cura do mal. Faz também um
estudo do passe, suas origens aplicações e efeitos. E, por fim, discorre sobre
a doutrinação, o mais eficiente e humanitário método de cura, que se resume no
esclarecimento progressivo do obsessor e do obsedado, à luz da Doutrina
Espírita.
Informações preliminares
A obsessão se caracteriza pela
ação de entidades espirituais inferiores sobre o psiquismo humano. Kardec
distinguiu em suas pesquisas três graus do processo obsessivo: obsessão
simples, subjugação e fascinação. No 1º grau a infestação espiritual atinge a
mente, causando perturbações mentais; no 2º grau amplia-se aos centros da
afetividade e da vontade, afetando os sentimentos e o sistema psicomotor,
levando o obsedado a atitudes e gestos estranhos e tiques nervosos; no 3º grau
afeta a própria consciência da vítima, desencadeando processos alucinatórios.
As causas da obsessão decorrem de
vários fatores, dos quais os mais frequentes são: problemas reencarnatórios,
tendências viciosas, egoísmo excessivo, ambições desmedidas, aversão a certas
pessoas, ódio, sentimento de vingança, futilidade, vaidade exagerada, apego ao
dinheiro e assim por diante. Essas disposições da criatura atraem espíritos
afins que a envolvem e são aceitos por ela como companheiros invisíveis. Os
espíritos obsessores não são os únicos culpados da obsessão. Geralmente o maior
culpado é a vítima.
Na antiguidade a obsessão era
tratada com violência. As práticas do exorcismo, até hoje vigentes no Judaísmo
e no Catolicismo, destinam-se a afastar o demônio de maneira agressiva e
violenta. No Espiritismo o método empregado é o da persuasão progressiva do
obsessor e do obsedado. É o que se chama de doutrinação, ou seja,
esclarecimento de ambos à luz da Doutrina Espírita. Não se usa nenhum
ingrediente especial. Emprega-se apenas a prece e a conversação persuasiva.
Esclarecido o obsedado, atinge-se o obsessor, que ficam, por assim dizer,
vacinados contra novas ocorrências obsessivas.
I — Obsessão
O que é a obsessão?
Orientação para o tratamento dos
casos de obsessão.
1 — O sentido da vida
Por que e para que vivemos? A
resposta a esta pergunta é de importância para compreendermos o problema da
obsessão. Segundo o Espiritismo, vivemos para desenvolver as potencialidades
psíquicas de que todos somos dotados. Nossa existência terrena tem por fim a
transcendência, ou seja, a superação constante da nossa condição humana. Desde
o nascimento até o nosso último dia passamos pelas experiências que desenvolvem
as nossas aptidões inatas, em todos os sentidos. A criança recém-nascida cresce
dia a dia, desenvolve o seu organismo, aprende a comunicar-se com os outros, a
falar e a raciocinar, a querer e a agir para conseguir o que quer. Transcende a
condição em que nasceu e passa para as fases superiores da infância, entrando
depois na adolescência e depois na mocidade, na madureza e na velhice. Ao fazer
todo esse trajeto ela desenvolveu suas forças orgânicas e psíquicas, sua
afetividade, sua capacidade de compreender o que se passa ao seu redor e seu
poder de dominar as circunstâncias. Isso é transcender, elevar-se acima da
condição em que nasceu. É para isso que vivemos. E isso nos mostra que o
sentido da vida é transcendência.
Hoje, a Filosofia Existencial
sustenta esse mesmo princípio no campo filosófico. Os existencialistas
consideram o homem como um projeto, ou seja, um ser projetado na existência
como uma flecha em direção a um alvo, que é a transcendência. Mas no
Espiritismo as existências são muitas e sucessivas, de maneira que em cada
existência terrena atingimos um novo grau de transcendência. As pesquisas
parapsicológicas atuais sobre a reencarnação confirmam esse
princípio. O fato de vivermos muitas vidas na Terra, e não apenas uma, mostra
que temos no inconsciente uma armazenagem de lembranças e conhecimentos,
aspirações, frustrações e traumas muito maior que a descoberta por Freud.
É bom anotar na memória este dado
importante: quando Kardec descobriu as manifestações do inconsciente, através
de suas pesquisas sobre os fenômenos anímicos, Freud tinha apenas um ano de
idade. Isso não desmerece Freud, que não conhecia as pesquisas de Kardec, mas
nos prova a segurança das pesquisas espíritas do psiquismo humano. A concepção
espírita da vida humana na Terra não é imaginária, mas real, baseada em
pesquisas científicas. Os que consideram o Espiritismo como uma doutrina
supersticiosa, gerada pela ignorância, revelam ser mais ignorantes do que
poderiam pensar de si mesmos. A Doutrina Espírita está hoje comprovada
cientificamente pelos cientistas mais avançados. Dizemos isto para mostrar aos
leitores que o sentido da vida, a que nos referimos, não é uma hipótese, mas uma
realidade. Se não compreendermos que a vida é transcendência, crescimento,
elevação e desenvolvimento constante e comprovado do ser espiritual que somos,
não poderemos encarar com naturalidade o problema da obsessão e lutar para
resolvê-lo.
2 — As dimensões da vida
O avanço atual da
pesquisa científica no mundo, com a descoberta da antimatéria, do
corpo-bioplásmico dos seres vivos (perispírito, segundo o Espiritismo), dos
fenômenos paranormais e da sobrevivência humana após a morte física, bem como
das comunicações mentais entre vivos e mortos (fenômenos théta da
Parapsicologia) confirmou a descoberta espírita das várias dimensões da vida.
Essas dimensões correspondem a diversas densidades da matéria, que permitem a
existência dos mundos interpenetrados da teoria espírita.
A descoberta de que o pensamento
e a mente não são físicos, mas extrafísicos (segundo a definição do Prof.
Rhine) e semimateriais, segundo o Espiritismo, demonstrou a realidade dos
diferentes planos de vida, habitados por seres humanos em diferentes graus de
evolução. A reencarnação e as comunicações mediúnicas tornaram-se necessárias
nesse contexto dinâmico em que não há lugar para o nada. A transcendência
humana se realiza nos planos sucessivos, que vão desde o plano da matéria densa
da Terra até os planos de matéria rarefeita que escapam aos nossos sentidos
materiais. Não há mais lugar para a concepção materialista absoluta na cultura
científica e filosófica do nosso tempo.
3 — Freud e Kardec
Muitos psicólogos e
psiquiatras acusam o Espiritismo de invadir os seus domínios científicos nos
casos de perturbações mentais e psíquicas. Desconhecendo a Doutrina Espírita e
sua história, não sabem que se deu exatamente o contrário. Afirmam que a
obsessão é uma perturbação decorrente de desequilíbrios endógenos, ou seja, das
próprias estruturas psico-mentais do paciente em relação com os fatores
ambientais. Atribuem quase tudo à constituição do paciente, a disfunções
orgânicas e particularmente cerebrais ou afetivas. O inconsciente é geralmente
a sede de todos os distúrbios psíquicos. Entendem que os espíritas confundem os
fantasmas imaginários gerados por manifestações patológicas do paciente com
fantasmas reais das mais antigas superstições mágicas e religiosas da
Humanidade. Acham que o Espiritismo representa um processo de volta ao mundo da
superstição.
Freud tinha apenas um ano de
idade quando Kardec levantou o problema do inconsciente em termos científicos,
nas suas pesquisas dos fenômenos espíritas, hoje chamados cientificamente de
paranormais. Kardec foi mais fundo do que Freud no assunto, atingindo o
problema dos arquétipos individuais e coletivos, que somente Adler e Jung iriam
pesquisar mais tarde. Na pesquisa do problema do animismo nas manifestações
mediúnicas e das infiltrações anímicas em manifestações reais, Kardec acentuou
devidamente a importância das manifestações do inconsciente no comportamento
individual e coletivo. Freud encarou a questão dos sonhos nos limites da sua
doutrina. Kardec, durante nada menos de doze anos, já havia realizado
intensivas pesquisas de psicologia experimental (pioneirismo absoluto nesse
campo) na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Hoje, as pesquisas
parapsicológicas, realizadas nos maiores centros universitários de todo o
mundo, comprovam inteiramente o acerto de Kardec.
Damos essas informações
históricas unicamente para que as vítimas de obsessões e os familiares por elas
responsáveis não se deixem levar por enganos fatais em casos
difíceis de obsessão. A Ciência Espírita não se opõe às Ciências Materiais em
nenhum campo, tentando apenas ajudá-las com a necessária complemen-tação das
suas pesquisas e conquistas próprias. É fácil verificar a verdade destas
informações na simples consulta às obras de Kardec, incluindo-se os relatos
sobre obsessões e desobsessões em seus trabalhos publicados na coleção da Revista Espírita, hoje inteiramente traduzida e publicada em
nossa língua.
4 — Inconsciente e memória subliminar
Dos trabalhos de Kardec
resultaram as pesquisas psíquicas do século XIX, a Ciência Psíquica Inglesa, a
Metapsíquica Francesa de Richet, as pesquisas do automatismo psicológico de
Pierre Janet, Psicobiofísica de Schrenk-Notzing, a Física Transcenden-tal de
Friedrich Zollner, na Alemanha, e a Parapsicologia atual. Resultou também o
famoso livro de Fredrich Myers A Persona-lidade Humana e sua
sobrevivência à morte do corpo físico, com a colaboração científica de
Henry Sidgwick e Edmund Gurney. Esse livro coloca o problema das duas
consciências, a supraliminar, voltada para os problemas existenciais, e a
subliminar, voltada para a transcendência e a vida de após morte. A percepção
paranormal pertence à consciência subliminar, que equivale, na Psicanálise, ao
inconsciente. Explica-se o gênio pelo afloramento de conteúdos subliminares na
consciência supraliminar, provocado por percepções extra-sensoriais. Esses
afloramentos podem ser também de ideias negativas, perturbando o comportamento
atual. No Espiritismo isso se liga à teoria platônica da reminiscência;
são resíduos de experiências vividas em outras vidas. As pesquisas de Albert de
Rochas sobre a reencarnação, no século passado, e as pesquisas parapsicológicas
atuais confirmam a tese espírita. É bastante clara a diferença entre esses
afloramentos anímicos (da própria alma do médium) e os casos típicos de
manifestação de espíritos.
5 — Infecção e infestação
Não só no plano psicológico
verificam-se as obsessões, mas também na patologia geral. Sintomas de doenças
infecciosas são transmitidos por entidades espirituais enfermiças a pessoas
sãs. Para fazer a distinção, adotou-se no Espiritismo o termo infestação para
designar essas doenças fantasmas, que tanto podem ser de origem anímica como
espirítica. Fortes impressões e temores podem ocasionar a
sintomatologia-fantasma. Nos casos de infestação verifica-se o processo
indutivo dos vasos comunicantes: o espírito transfere à vítima, geralmente sem
o saber, os sintomas da doença que o levou à morte e que persistem no seu
perispírito ou corpo espiritual. A prova científica, objetiva, da existência
desse corpo espiritual foi feita na França por Raul de Motyndon, na primeira
metade do século e atualmente por físicos, biofísicos e biólogos soviéticos, na
universidade de Kirov, na URSS, que deram ao referido corpo a designação do
corpo-bioplásmico. Kardec pesquisou o problema, no seu tempo, confirmando a
hipótese da infestação por meio do tratamento e cura dos pseudodoentes com o
simples afastamento das entidades enfermiças infestadoras. O Dr. Karl Wikland,
nos Estados Unidos, comprovou também o fenômeno pelo espaço de três décadas,
expondo os resultados, minuciosamente, no livro Trinta
Anos entre os Mortos. Em sua famosa clínica de
Chicago, o Dr. Wikland conseguiu êxitos surpreendentes. A pseudodoença de
centenas de pacientes, cansados de percorrer consultórios e clínicas,
estagiando inutilmente em hospitais especializados, encontravam a solução para
os seus casos. E ele não era, propriamente, um médico espírita. Era apenas um
médico estudioso e pesquisador, que tivera a ventura de casar-se com uma jovem
dotada de grande sensibilidade mediúnica. Os casos relatados em seu livro
revelam a riqueza dos fenômenos com que ele se defrontou no seu trabalho
médico. Seu caso não é único, foi apenas um entre milhares que ocorreram e
ocorrem no mundo. Mencionamo-lo aqui porque foi um dos mais positivos e
importantes.
6 — O tratamento mediúnico
O tratamento mediúnico não segue
uma regra única. Varia de acordo com a natureza dos casos e as condições
psicológicas específicas dos pacientes. Deve sempre ser feito sob orientação
médica, mas de médico que tenha suficiente conhecimento da doutrina. Sem esse
conhecimento, muitos médicos-médiuns extraviaram-se em práticas que a pesquisa
espírita já demonstrou serem inúteis e portanto desnecessárias, servindo apenas
para dar ao tratamento racional aspectos supersticiosos. Todo tratamento
mediúnico deve ser gratuito, segundo a prescrição de Kardec, pois depende
estritamente do auxílio espiritual. Os espíritos não cobram os seus serviços e
não gostam que cobrem por eles. Por isso, deve ser realizado em instituições
doutrinárias, onde médicos servem como espíritas que possuem conhecimentos
médicos, excluindo-se o profissionalismo. O serviço espírita é de abnegação, é
o pagamento que médiuns e médicos fazem a Deus, através do sofrimento humano
por eles aliviado, do muito que diariamente recebem do amparo divino. Os que
não compreendem isso, deixando-se levar pela ganância, acabam fatalmente subjugados
pelos espíritos inferiores.
A pureza de intenções de médiuns
e médicos é a única possível garantia da eficácia do tratamento mediúnico. Como
assinalava Kardec, o desprendimento dos interesses terrenos é a primeira
condição do interesse dos Espíritos Superiores pelo nosso esforço em favor do
próximo.
7 — A cura da obsessão
Você é um ser humano adulto e
consciente, responsável pelo seu comportamento. Controle as suas ideias,
rejeite os pensamentos inferiores e perturbadores, estimule as suas tendências
boas e repila as más. Tome conta de si mesmo. Deus concedeu a jurisdição de si
mesmo, é você quem manda em você nos caminhos da vida. Não se faça de criança
mimada. Aprenda a se controlar em todos os instantes e em todas as
circunstâncias. Experimente o seu poder e verá que ele é maior do que você
pensa.
A cura da obsessão é uma
autocura. Ninguém pode livrar você da obsessão se você não quiser livrar-se
dela. Comece a livrar-se agora, dizendo a você mesmo: sou uma
criatura normal, dotada do poder e do dever de dirigir a mim mesmo. Conheço os
meus deveres e posso cumpri-los. Deus me ampara.
Repita isso sempre que se sentir
perturbado. Repita e faça o que disse. Tome a decisão de se portar como uma
criatura normal que realmente é, confiante em Deus e no poder das forças
naturais que estão no seu corpo e no seu espírito, à espera do seu comando.
Dirija o seu barco.
Reformule o seu conceito de si
mesmo. Você não é um pobrezinho abandonado no mundo. Os próprios vermes são protegidos
pelas leis naturais. Por que motivo só você não teria proteção? Tire da mente a
ideia de pecado e castigo. O que chamam de pecado é o erro, e o erro pode e
deve ser corrigido. Corrija-se. Estabeleça pouco a pouco o controle de si
mesmo, com paciência e confiança em si mesmo.
Você não depende dos outros,
depende da sua mente. Mantenha a mente arejada, abra suas janelas ao mundo,
respire com segurança e ande com firmeza. Lembre-se dos cegos, dos mudos e dos
surdos, dos aleijados e deficientes que se recuperam confiando em si mesmos.
Desenvolva a sua fé. Fé é confiança. Existe a fé divina, que é a confiança em
Deus e no Seu poder que controla o Universo. Você, racionalmente, pode duvidar
disso? Existe a fé humana, que é a confiança da criatura em si
mesma. Você não confia na sua inteligência, no seu bom senso, na sua capacidade
de ação? Você se julga um incapaz e se entrega às circunstâncias, deixando-se
levar por ideias degradantes a seu respeito? Mude esse modo de pensar, que é
falso.
Quando vier às reuniões de
desobsessão, venha confiante. Os que o esperam estão dispostos a auxiliá-lo.
Seja grato a essas criaturas que se interessam por você e ajude-as com sua boa
vontade. Se você fizer isso, a sua obsessão já começou a ser vencida. Não se
acovarde, seja corajoso.
8 — Roteiro da desobsessão
1) Ao acordar, diga a si mesmo:
Deus me concede mais um dia de experiências e aprendizado. É fazendo que se
aprende. Vou aproveitá-lo. Deus me ajuda. (Repita isso várias vezes, procurando
manter essas palavras na memória. Repita-as durante o dia.)
2) Compreenda que a obsessão é um
estado de sintonia da sua mente com mentes desequilibradas. Corte essa sintonia
ligando-se a pensamentos bons e alegres. Repila as ideias más. Compreenda que
você nasceu para ser bom e normal. As más ideias e os maus pendores existem
para você vencê-los, nunca para se entregar a eles.
3) Mude sua maneira de encarar os
semelhantes. Na essência, somos todos iguais. Se ele está irritado, não entre
na sua irritação. Ajude-o a se reequilibrar, tratando-o com bondade. A
irritação é sintonia de obsessão. Não se deixe envolver pela obsessão do outro.
Não o considere agressivo. Certamente ele está sendo agredido e reage
erradamente contra os outros. Ajude-o que será também ajudado.
4) Vigie os seus sentimentos,
pensamentos e palavras nas relações com os outros. O que damos, recebemos de
volta.
5) Não se considere vítima. Você
pode estar sendo algoz sem perceber. Pense nisso constantemente, para melhorar
as relações com os outros. Viver é permutar. Examine o que você troca com os
outros.
6) Ao sentir-se abatido, não
entre na fossa. É difícil sair dela. Lembre-se de que você está vivo, forte,
com saúde, e dê graças a Deus por isso. Seus males são passageiros, mas se você
os alimentar eles durarão. É você que sustenta os seus males. Cuidado com isso.
7) Frequente a instituição
espírita com que se sintonize. Não fique pulando de uma para outra. Quem não
tem constância nada consegue.
8) Se você ouve vozes, não lhes dê atenção.
Responda simplesmente: Não tenho tempo a perder. Tratem de se melhorar enquanto
é tempo. Vocês estão a caminho do abismo. Cuidem-se. E peça aos bons Espíritos,
em pensamento, por esses obsessores.
9) Se você sente toques de dedos
ou descargas elétricas, repila esses espíritos brincalhões da mesma maneira e
ore mentalmente por eles. Não lhes dê atenção nem se assuste com esses efeitos
físicos. Leia diariamente, de manhã ou à noite, ao deitar-se, um trecho de O Evangelho Segundo o Espiritismo e medite sobre o que leu.
Abra o livro ao acaso e não pense que a lição é só para você. Geralmente é só
para os obsessores, mas você também deve aproveitá-la. No caso de visões a
técnica é a mesma. Nunca se amedronte. É isso que eles querem, pois com isso se
divertem. Esses pobres espíritos nada podem fazer além disso, a menos que você
queira brincar com eles, o que lhe custará seu aumento da obsessão. Corte as
ligações que eles querem estabelecer com você, usando o poder da sua vontade.
Se fingirem ser um seu parente ou amigo falecido, não se deixe levar por isso.
Os amigos e parentes se comunicam em sessões regulares, não querem perturbar.
10) Leia o livro de Allan Kardec O que é o Espiritismo; mas de Kardec, não outros de autores
diversos, que fazem confusões. Trate de estudar a Doutrina nas demais obras de
Kardec.
11) Não se deixe atrair por
macumbas e as diversas formas de mistura de religiões africanas com as nossas
crendices nacionais. Não pense que alguém lhe pode tirar a obsessão com as
mãos. Os passes têm por finalidade a transmissão de fluidos, de energias vitais
e espirituais para fortificar a sua resistência. Não confie em passes de
gesticulação excessiva e outras fantasias. O passe é simplesmente a imposição
das mãos, ensinada por Jesus e praticada por Ele. É uma doação humilde e não
uma encenação, dança ou ginástica. Não carregue amuletos nem patuás ou colares
milagrosos. Tudo isso não passa de superstições provindas de religiões das selvas. Você não é selvagem, é uma criatura civilizada capaz de
raciocinar e só admitir a fé racional. Estude o Espiritismo e não se deixe levar
por tolices. Dedique-se ao estudo, mas não queira saltar de aprendiz a mestre,
pois o mestrado em Espiritismo só se realiza no plano espiritual. Na Terra
somos todos aprendizes, com maior ou menor grau de conhecimento e experiência.
9 — Psiquiatria e Espiritismo
O conflito entre Psiquiatria e
Espiritismo tomou vulto entre nós, em virtude do crescimento do movimento
espírita. O preconceito religioso influi muito na questão, estimulando o
preconceito científico. Mas as últimas conquistas das Ciências abriram uma
perspectiva de trégua. Na proporção em que o conceito de matéria se pulverizou
nas mãos dos físicos e atingiu o plano da antimatéria, verificou-se uma nova
revolução copérnica no tocante à concepção do homem. Coube a um famoso
psiquiatra norte americano, Ian Stevenson, dar novo impulso às pesquisas sobre
a reencarnação. Na URSS o psiquiatra Wladimir Raikov, da Universidade de
Moscou, reconheceu o fenômeno de lembranças de vidas anteriores e iniciou
pesquisas a respeito, partindo do pressuposto de sugestões telepáticas. Hoje há
grande número de psiquiatras espíritas, o que estabelece o diálogo entre os
campos opostos.
As pesquisas parapsicológicas com
débeis mentais deram razão à tese espírita da distinção entre cérebro e mente.
Os débeis mentais agem no plano de psi (fenômenos
paranormais) em igualdade de condições com as pessoas normais. Isso parecia
mostrar que a debilidade era apenas cerebral e não mental. Quando Rhine
sustentou a natureza extrafísica da mente, que Vassiliev tentou refutar sem
consegui-lo, o problema se tornou mais claro. Muitos enigmas da Psiquiatria se
tornaram mais facilmente equacionáveis para uma solução. Entre eles, talvez o
mais complexo, que é o da Esquizofrenia. Certos casos de amnésia, em que os
pacientes substituem a memória atual por outra referente a uma possível vida
anterior, lançaram nova luz sobre o intrincado problema.
A divisão da mente, a diluição da
memória, o afastamento da realidade parecem denunciar uma espécie de nostalgia
psíquica que determina a inadaptação do espírito à realidade atual. Teríamos
dessa forma um caso típico de auto-obsessão nas modalidades variáveis da
Esquizofrenia. Os casos se agravam com a participação de entidades obsessoras
geralmente atraídas pelo estado dos pacientes. Eles se encontravam
em estado de ambivalência e são forçados a optar pelo passado ante a pressão
obsessiva. Este é mais um fato favorável à prática da desobsessão. Psiquiatria
e Espiritismo podem ajudar-se mutuamente, ao que parece em futuro bem próximo.
Não há razão para condenações psiquiátricas atuais dos processos espíritas de
cura dos casos de obsessão.
10 — Tratamento médico
Deve também haver uma orientação
médica, tendo ou não o profissional conhecimento da Doutrina. (De qualquer modo
ele não poderá utilizar profissionalmente as armas que o Espiritismo pode lhe
colocar nas mãos, pois o Código de Ética Médica o impede, com justa razão, no
atual estado dos conhecimentos e dos determinantes culturais atuantes na
maioria dos países. Os médicos que sejam espíritas não podem instituir um
“tratamento espírita”, mas obviamente podem, quando solicitados, calcados em
suas convicções filosóficas, opinarem sobre a situação vivencial de amigos e
pacientes).
Os que se propõem orientar os
obsediados no processo de sua libertação devem ter conhecimento da Doutrina
solidamente estabelecido, em vivência e em conhecimento teórico, a fim de que
os processos doutrinários não se percam em práticas que a pesquisa espírita
demonstrou serem inúteis e, portanto, desnecessárias, servindo apenas para dar
ao tratamento racional aspectos supersticiosos. Todo tratamento mediúnico deve
ser gratuito, segundo a recomendação de Kardec, pois depende estritamente do
auxílio espiritual. Os espíritos não cobram seus serviços e não gostam que cobrem
por eles. Por isso deve ser realizado em instituições doutrinárias, a nosso ver
com duas características:
• Orientação
externa: os que dela necessitam vêm periodicamente à instituição,
recebem a orientação preconizada e participam das práticas que a Doutrina
estabelece, até o seu reequilíbrio (e obviamente a instruções complementares),
• Orientação
interna: em instituições psiquiátricas mantidas por ou com participação
de espíritas. Nestas, o tratamento médico cabível seria instituído como em
qualquer hospital, e a orientação e as práticas que a Doutrina estabelece seriam
iniciadas com o consentimento das famílias ou dos pacientes como uma praxe
filosófico-religiosa independente da orientação médica (note-se, nem associada,
nem paralela, mas independente, para não ferir o
Código de Ética Médica, como foi exposto acima), o que não pode
ser criticado, desde que assim seja feito, pois é questão de foro íntimo, onde
ninguém deve interferir.
A pureza das intenções dos
médiuns e coordenadores das reuniões de desobsessão é a única possível garantia
da eficácia da orientação mediúnica. Como assinalava Kardec, o desprendimento
dos interesses terrenos é a primeira condição do interesse dos Espíritos
Superiores pelo nosso esforço em favor do próximo.
II — O Passe
1— Suas origens, aplicações e efeitos
O passe espírita é simplesmente a
imposição das mãos, usada e ensinada por Jesus como se vê nos Evangelhos.
Origina-se das práticas de cura do Cristianismo primitivo. Sua fonte humana e
divina são as mãos de Jesus. Mas há um passado histórico que não podemos
esquecer. Desde as origens da vida humana na terra encontramos os ritos de
aplicação dos passes, não raro acompanhados de rituais, como sopro, a fricção
das mãos, a aplicação de saliva e até mesmo (resíduo do rito do barro), a
mistura de saliva e terra para aplicação no doente. No próprio Evangelho vemos
a descrição da cura de um cego por Jesus usando essa mistura. Mas Jesus agiu sempre,
em seus atos e em suas práticas, de maneira que essas descrições, feitas entre
quarenta e oitenta anos após a sua morte, podem ser apenas influência de
costumes religiosos da época. Todo o seu ensino visava afastar os homens das
superstições vigentes no tempo. Essas incoerências históricas, como advertiu
Kardec, não podem provir dele, mas dos evangelistas; caso contrário, Jesus
teria procedido de maneira incoerente no tocante aos seus ensinos e seus
exemplos, o que seria absurdo.
O passe espírita não comporta as
encenações e gesticulações em que hoje se envolveram alguns teóricos
improvisados, geralmente ligados a antigas correntes espiritualistas de origem
mágica ou feiticista. Todo o poder e toda a eficácia do passe espírita dependem
do espírito e não da matéria, da assistência espiritual do médium passista e
não dele mesmo. Os passes padronizados e classificados derivam de teorias e
práticas mesméricas, magnéticas e hipnóticas, de um passado já há muito
superado. Os espíritos realmente elevados não aprovam nem ensinam essas coisas,
mas a prece e a imposição das mãos. Toda a beleza espiritual do
passe espírita, que provém da fé racional no poder espiritual, desaparece ante
as ginásticas pretensiosas e ridículas gesticulações.
As encenações preparatórias: mãos
erguidas ao alto e abertas, para suposta captação de fluidos pelo passista,
mãos abertas sobre os joelhos, pelo paciente, para melhor assimilação fluídica,
braços e pernas descruzados para não impedir a livre passagem dos fluidos, e
assim por diante, só serve para ridicularizar o passe, o passista e o paciente.
A formação das chamadas pilhas mediúnicas,
com o ajuntamento de médiuns em torno do paciente, as correntes de mãos
dadas ou de dedos se tocando sobre a mesa – condenadas por Kardec – nada mais
são do que resíduos do mesmerismo do século passado, inúteis, supersticiosos e
ridicularizantes.
Todas essas tolices decorrem
essencialmente do apego humano às formas de atividades materiais. Julgamo-nos
capazes de fazer o que não nos cabe fazer. Queremos dirigir, orientar os
fluidos espirituais como se fossem correntes elétricas e manipulá-los como se a
sua aplicação dependesse de nós. O passista espírita consciente, conhecedor da
doutrina e suficientemente humilde para compreender que ele pouco sabe a
respeito dos fluidos espirituais – e o que pensa saber é simples pretensão
orgulhosa – limita-se à função mediúnica de intermediário. Se pede a
assistência dos Espíritos, com que direito se coloca depois no lugar deles?
Muitas vezes os Espíritos recomendam que não se façam movimentos com as mãos e
os braços para não atrapalhar os passes. Ou confiamos na ação dos Espíritos ou
não confiamos, e neste caso é melhor não os incomodarmos com os nossos pedidos.
O passe espírita é prece, concentração
e doação. Quem reconhece que não pode dar de si mesmo, suplica a doação dos
Espíritos. São eles que socorrem aqueles por quem pedimos, não nós, que em tudo
dependemos da assistência espiritual.
2 — Magia e religião
O passe nasceu nas civilizações
da selva como um elemento de magia selvagem, um rito das crenças primitivas. A
agilidade das mãos em fazer e desfazer as coisas sugeria a existência, nelas,
de poderes misteriosos, praticamente comprovados pelas ações cotidianas da
fricção que acalmava a dor, da pressão dos dedos estancando o sangue ou
expulsando um espinho ou o ferrão de uma vespa ou o veneno de uma cobra. Os
poderes mágicos das mãos se confirmavam também nas imprecações aos deuses, que
eram simplesmente os espíritos. As bênçãos e as maldições foram as primeiras
manifestações típicas dos passes. O selvagem primitivo não teorizava, mas
experimentava instintivamente e aprendia a fazer e desfazer com o poder das
mãos. Os deuses o auxiliavam, socorriam, instruíam em suas manifestações
mediúnicas naturais. A sensibilidade mediúnica aprimorava-se nas criaturas mais
sensíveis e assim surgiram os pajés, os feiticeiros, os xamãs, os mágicos
terapeutas, curadores.
A descoberta do passe acompanhava
e auxiliava o desenvolvimento do rito, da linguagem e da descoberta de
instrumentos que aumentavam o poder das mãos. Podemos imaginar, como o fez
Andrew Lang, um homem primitivo olhando intrigado o emaranhado de riscos da
palma de sua mão, sem a mínima ideia do que aquilo poderia significar. Seus
descendentes iriam admitir, mais tarde, que ali estavam traçados os destinos de
cada criatura. O mistério da mão humana foi um elemento essencial do
desenvolvimento da inteligência e especialmente da descoberta lenta e
progressiva, pelo homem, do seus poderes internos. Dos tempos primitivos até
aos nossos dias, a mão é o símbolo do fazer que nos leva ao saber. Enquanto a
Lua, o Sol e as estrelas atraíam os homens para o mistério do cosmos, a mão os
levava a mergulhar nas profundezas da natureza humana.
Dessa dialética do interior e do
exterior nasceram a Magia e a Religião. A Magia é prática, nasceu das mãos e
funcionava através delas. A Religião é teórica, nasceu dos olhos, da visão
abstrata do mundo e funciona no plano das ideias. Na Magia, os homens
submetem os deuses ao poder humano, obrigam a Divindade a obedecê-los, a fazer
por eles. Na Religião, os homens se submetem aos deuses, suplicam a proteção da
Divindade. Mas, apesar dessa distinção, as religiões não se livraram dos
resíduos primitivos das fórmulas mágicas. Todas as Igrejas da atualidade, mesmo
após as reformas recentes, apegam-se ao fazer dos mágicos, através de seus
sacramentos. O exemplo mais claro disso é o sacramento da Eucaristia, na Igreja
Católica, pelo qual o sacerdote obriga Deus a materializar-se nas espécies
sagradas da hóstia, para que o crente possa absorvê-lo e purificar-se com a sua
ingestão.
No Espiritismo os resíduos
mágicos não podiam existir, pois trata-se de uma doutrina racionalista, mas o
grande número de adeptos provindos dos meios religiosos, sem a formação
filosófica e científica da Doutrina, carreiam esses resíduos para o nosso meio,
numa tentativa de padronização de práticas espíritas e de transformação dos
passes num fazer dos médiuns e não dos espíritos. É tipicamente mágica a
atitude do médium que pretende, com sua ginástica, limpar a aura de uma pessoa
ou limpar uma casa. As tentativas de cura através desses bailados mediúnicos
revela confiança mágica do médium no rito que pratica. Por isso Jesus ensinou
simplesmente a imposição das mãos acompanhada da oração silenciosa. A oração em
voz alta e em conjunto é também um resíduo mágico, pelo qual se tenta obrigar
Deus ou os Espíritos a atenderem os clamores humanos. A religião racional, e
portanto consciente, baseia-se na fé esclarecida pela razão, que não comporta
de maneira alguma essas e outras práticas formais e carregadas de misticismo
igrejeiro.
3 — A técnica do passe
Os elaboradores e divulgadores de
técnicas do passe não sabem o que fazem. A técnica do passe não pertence a nós,
mas exclusivamente aos Espíritos Superiores. Só eles conhecem a situação real
do paciente, as possibilidades de ajudá-lo em face de seus compromissos nas
provas, a natureza dos fluidos de que o paciente necessita e assim por diante.
Os médiuns vivem a vida terrena e estão condicionados na encarnação que merecem
e de que necessitam. Nada sabem da natureza dos fluidos, da maneira apropriada
e eficaz de aplicá-los, dos efeitos diversos que eles podem causar. Na verdade,
o médium só tem uma percepção vaga, geralmente epidérmica dos fluidos. É
simples atrevimento — e portanto charlatanismo – querer manipulá-los e
distribuí-los a seu modo e a seu critério. As pessoas que acham que os passes
ginásticos ou dados em grupos mediúnicos formados ao redor do paciente são
passes fortes, assemelham-se às que acreditam mais na força da macumba, com
seus apetrechos selvagens, do que no poder espiritual. As experiências
espíritas sensatas e lógicas, em todo o mundo, desde os dias de Kardec até
hoje, mostraram que mais vale uma prece silenciosa, às vezes na ausência e sem
o conhecimento do paciente, do que todas as encenações e alardes de força dos
ingênuos ou farofeiros que ignoram os princípios doutrinários.
4 — Passe à distância
Não há distância para a ação dos
passes. Os Espíritos Superiores não conhecem as dificuldades das distâncias
terrenas. Podem agir e curar através das maiores lonjuras. Esse fato,
constatado e demonstrado pelo Espiritismo e ridicularizado pelos cientistas materialistas,
está hoje cientificamente comprovado pelas pesquisas em todo o mundo, através
de pesquisas e experiências dos principais centros universitários da
atualidade. A telepatia, transmissão do pensamento, intenções e desejos, e psicapa, ação da mente sobre a matéria, só podem ser negadas
hoje por pessoas (cientistas ou não) que estiverem cientificamente
desatualizadas, e, portanto, sem autoridade para opinar a respeito.
Não obstante, não se deve
desprezar a importância do efeito psicológico da presença do paciente no
ambiente mediúnico ou da presença do passista junto a ele. Temos, nesse caso,
dois elementos importantes de eficácia no tratamento por passes. O efeito
psicológico resulta dos estímulos provocados no paciente por sua presença num
ambiente de pessoas interessadas em ajudá-lo, o que lhe desperta sensação de
segurança e confiança em si mesmo. Trata-se de uma reação anímica (da própria
alma do paciente) por isso mesmo psicológica, conhecida na Psicologia como
estímulo de conjunto, em que se quebra o desânimo da solidão. Por outro lado, a
visita do passista ao paciente isolado em casa dá-lhe a sensação de valor
social, reanimando-lhe a esperança de volta à vida normal. Além disso, a
presença do paciente numa reunião lhe permite receber a ajuda do calor humano
dos outros e da doação fluídica direta, seja do médium ou também de pessoas que
o acompanham. Assim, o passe à distância só deve ser empregado quando for de
todo impossível o passe de contato pessoal.
São esses também os motivos que
justificam a prática dos passes individuais nos Centros, onde todos sabem que
ninguém deixa de ser assistido de receber a fluidificação necessária.
5 — Passe de auxílio mediúnico
Nas sessões de manifestações de
Espíritos para doutrinação o passe é empregado como auxiliar dos médiuns ainda
em desenvolvimento, incapazes de controlar as manifestações de entidades
rebeldes. A técnica espírita não é de violência, como nas práticas superadas do
exorcismo, mas de esclarecimento e persuasão. A ajuda fluídica ao médium envolvido
se faz apenas através da imposição das mãos, sem tocar o médium. Certas pessoas
aflitas ou mal iniciadas no assunto procuram segurar o médium, agarrá-lo com
força e sujeitá-lo. Isso serve apenas para provocar a reação da entidade,
provocando tumulto na reunião. O médium se descontrola ainda mais e a entidade
se aproveita disso para tumultuar a sessão. Chama-se o médium pelo nome,
pede-se a ele que reaja e adverte-se a entidade para acalmar-se, sem o que se
prejudicará, a si mesma. Não se deve esquecer que a força do passe é espiritual
e não a força física. Os Espíritos auxiliares estão ao redor e retiram a
entidade rebelde. O médium novato e o que dá o passe de auxílio precisam estar
instruídos sobre a possibilidade dessas ocorrências e sobre o comportamento
certo a adotar. Essas observações devem ser sempre repetidas nas sessões dessa
natureza, para que o passe de auxílio não se converta em motivo de tumulto.
Esse é um aspecto do problema do passe que muitos têm dificuldade de
compreender, por falta de uma compreensão exata da natureza puramente
espiritual do passe.
6 — Preparação para o passe
É muito comum chegarem pessoas ao
Centro, ou mesmo dirigindo-se à casa de um médium, pedindo passe com urgência.
O passe não pode ser dado a qualquer momento e de qualquer maneira. Deve ser
sempre precedido de preparação do passista e do ambiente, bem como do paciente.
O médium precisa de preparação para bem se dispor ao ato mediúnico do passe.
Atender a esses casos imediatamente é dar prova de ignorância das leis do
passe. Tudo depende de sintonias que precisam ser estabelecidas. Sintonia do
médium com o seu estado íntimo; sintonia do passista com o Espírito que vai
atendê-lo; sintonia das pessoas presentes com o ambiente que se deve formar no
recinto. Tudo isso se consegue através da prece e do interesse de todos pela
ajuda ao necessitado. Dar um passe sem essas medidas preparatórias é uma
imprudência e um desrespeito aos Espíritos, que podem estar empenhados em
outros afazeres naquele momento. A falsa ideia de que basta estendermos as mãos
sobre uma pessoa para socorrê-la é uma pretensão que tem suas raízes nas
práticas mágicas. O passe não é um ato de magia, mas uma ação consciente de
súplica às entidades espirituais superiores que nos amparam. A existência e a
ação dessas entidades não são uma suposição, mas uma realidade provada
cientificamente e hoje necessariamente integrada nas leis naturais, pois não
decorre de visões místicas, mas de fatos, de fenômenos objetivos cujas leis já
foram descobertas. Os fenômenos paranormais não são de natureza mágica nem
pertencem ao mito, mas ao real verificável por métodos adequados de pesquisa e
até mesmo por meios tecnológicos.
7 — Transfusão fluídica
O passe é uma transfusão de
plasma extrafísico (para usarmos essa expressão de Rhine) certamente composto
de partículas livres de antimatéria. Nas famosas pesquisas da Universidade de
Kirov, na URSS, em que os cientistas soviéticos (materialistas) descobriram o
corpo-bioplásmico do homem, verificou-se por meios tecnológicos recentes que a
força-psíquica de William Crookes é uma realidade vital na nossa própria
estrutura psicofísica. O ectoplasma de Charles Richet, agindo nessas
experiências como um plasma radiante, confirmou a teoria espírita (de Kardec)
da ação de fluidos semimateriais nos fenômenos de telecinesia (movimento e
levitação de objetos à distância). A suposta incompatibilidade de matéria e
antimatéria já havia sido afastada pela produção em laboratório de um antiátomo
de Hélio, comprovando-se a realidade dos espaços interpenetrados. De todas
essas conquistas resultou necessariamente a comprovação da existência dos
fluidos vitais invisíveis do organismo humano e de todos os organismos vivos,
fotografados pelas Câmeras Kirlian. O oficialismo ideológico soviético fez
calar os cientistas, em defesa do materialismo de Estado, mas a descoberta foi
registrada e divulgada por pesquisadoras da Universidade de Prentice Hall, nos
Estados Unidos.
Essa epopeia científica e
tecnológica da Universidade de Kirov, combatida também pelo espiritualismo
igrejeiro, deu-nos a chave do mistério das mãos humanas e do passe. Raul de Montandon
já havia obtido na França, por meios mais modestos, fotos de corpos
bioplásmicos de animais inferiores, e Gustave Geley comprovara, em Paris, o
fluxo de ectoplasma em torno das sessões mediúnicas. As mãos humanas funcionam,
no passe espírita, como antenas que captam e transmitem as energias do plasma
vital de antimatéria. Hoje conhecemos, portanto, toda a dinâmica do passe
espírita como transmissão de fluidos no processo aparentemente simplíssimo e
eficaz do passe. Não há milagre nem sobrenatural na eficácia do passe,
modestamente aplicado e divulgado por Jesus há dois mil anos. Essas as razões que nos levam a exigir, na atualidade, o respeito que o passe
merece.
8 — A ciência do passe
Embora com boas intenções, as
pessoas que se apressaram a oferecer ao público os lineamentos de uma Ciência
do Passe, baseando-se em experiências comuns do passe utilizado nos Centros
Espíritas, cometeram uma leviandade. Kardec colocou o problema do passe em
termos científicos, no campo da Fluídica, ou seja, da Ciência dos Fluidos. Com
seu rigor metodológico, ligou o passe à estrutura dinâmica do perispírito
(corpo espiritual), hoje reconhecido como a fonte de todas as percepções a
atividades paranormais. A Fluídica é hoje uma Ciência Tecnológica, voltada
apenas para o estudo dos fluidos materiais de propulsão. As descobertas atuais
da Parapsicologia, e particularmente as da Universidade de Kirov, confirmaram a
validade da posição secularmente precursora de Kardec. A Fluídica se abre, ante
o avanço da Física Nuclear, para a pesquisa da dinâmica dos fluidos em todo o
Cosmos. Só agora começamos a dispor de elementos para um conhecimento exato, o
que vale dizer científico, da problemática bimilenar do passe.
Nas experiências de Kirov as
manifestações dos fluidos foram vistas e fotografadas pelos cientistas soviéticos,
que arriscaram a cabeça para proclamar a importância dos fluidos mediúnicos na
terapêutica do futuro. Essa foi mais uma vitória da Ciência Espírita através
das pesquisas de cientistas materialistas. Isso prova que a Ciência, no fundo,
não é mais do que o método geral da pesquisa e comprovação objetiva da
realidade, que ao contrário das restrições kantianas e das múltiplas
classificações metodológicas em vigor, é essencialmente uma só, como sustentava
entre nós Carlos Imbassahy. Por qualquer lado que invadirmos o campo do real,
através de pesquisas científicas, chegamos sempre a conclusões coincidentes.
No tocante ao passe, as teorias
psicológicas da sugestão, dos estímulos provocados no organismo humano estão
hoje superadas pelas descobertas objetivas da Fluídica aplicada ao Psiquismo. A
Medicina Psicossomática é uma prova disso.
Quando, porém, passamos
os limites da sugestão natural para os excessos da gesticulação e da fabulação
– como se faz nos pedidos ao paciente para que imagine entrar numa sala
doirada, etc. –, perturbamos através de desvios imaginários a ação, naturalmente
controlada pelos dispositivos do inconsciente (consciência subliminar de Myers)
o processo natural de reajuste e cura.
Quando Kardec propôs a tese da
natureza semimaterial do perispírito (corpo bioplásmico) a expressão pareceu
estranha e rebarbativa nos meios científicos. As pesquisas de Crookes, Notzing,
Crawford, Geley, Imoda e Richet, além de outros, provaram posteriormente o
acerto de Kardec. Atualmente as Ciências reconheceram que a explicação dos
campos de forças não dispensa o reconhecimento de uma conjugação constante de
energia e matéria em todas as estruturas dinâmicas da Terra, do homem e do
espaço sideral. Tudo isso nos mostra que o estudo científico do passe não pode
ser feito por pessoas desprovidas de conhecimentos científicos atualizados. O
“Kardec superado” dos espíritas pretensiosos dos nossos dias está sempre na
dianteira das conquistas atuais. O Espiritismo é a Ciência e acima de tudo a
Ciência que antecipou e deu nascimento a todas as Ciências do Paranormal, desde
as mais esquecidas tentativas científicas do passado até a Metapsíquica de
Richet e a Parapsicologia atual de Rhine e McDougal. Qualquer descoberta nova e
válida dessas Ciências tem as suas raízes n’ O Livro dos
Espíritos.
Todos os acessórios ligados à
prática tradicional do passe devem ser banidos dos Centros Espíritas sérios. O
que nos cabe fazer nesta hora de transição da civilização terrena não é
inventar novidades doutrinárias, mas penetrar no conhecimento real da doutrina,
com o devido respeito ao homem de ciências e cientista eminente que a elaborou,
na mais perfeita sintonia com o pensamento dos Espíritos Superiores.
III — A Doutrinação
1 — Conceitos da doutrinação
A Doutrinação é a moderna técnica
espírita de afastar os espíritos obsessores através do esclarecimento
doutrinário. Essa técnica é moderna e foi criada e desenvolvida por Allan
Kardec para substituir as práticas bárbaras do Exorcismo, largamente usada na Antiguidade,
tanto na medicina como nas religiões. O conceito do doente mental como
possessão demoníaca gerou a ideia de espancar o doente para retirar o demônio
do seu corpo. Nos hospitais a cura se processava através de espancamentos
diários. Nas Religiões recorria-se a métodos de expulsão por meio de preces,
objetos sagrados como crucifixos, relíquias, rosários e terços, medalhas,
aspersão de água benta, ameaças e xingos, queima de incensos e outros
ingredientes, pancadas e torturas. As formas de exorcismo mais conhecidas entre
nós são a judaica e a católica, sendo a judaica mais racional, pois nela se
empregavam também o apelo à razão do Dibuk, considerado como espírito demoníaco
ou alma penada. A tradução da palavra hebraica Dibuk, que nos parece mais acertada
é a de alma penada, pois os judeus reconheciam e identificavam o espírito
obsessor como espírito humano de pessoa morta que se vingava do obsedado ou
cobrava débitos dele e da família. No exorcismo católico prevaleceu até hoje a
ideia de possessão demoníaca.
As pesquisas espíritas do século
passado levaram Kardec a instituir e praticar intensivamente a doutrinação como
forma persuasiva de esclarecimento do obsessor e do obsedado, através de
sessões de desobsessão. Ambos necessitam de esclarecimento evangélico para
superarem os conflitos do passado. Afastada a ideia terrorista do diabo, o
obsessor e o obsedado são tratados com amor e compreensão, como criaturas
humanas e não como algoz satânico e vítima inocente. A doutrinação espírita
humanizou e cristianizou o tratamento das doenças mentais e
psíquicas, influindo nos novos rumos que a Medicina tomava nesse sentido.
Alguns espíritas atuais pretendem suprimir a doutrinação, alegando que esta é
realizada com mais eficiência pelos Espíritos bons no plano espiritual. Essa é
uma prova de ignorância generalizada da Doutrina no próprio meio espírita, pois
nela tudo se define em termos de relação e evolução. Os espíritos sofredores,
que são os obsessores, permanecem mais ligados à Terra e portanto à matéria. Dessa
maneira, os Espíritos benevolentes muitas vezes se manifestam nas sessões de
desobsessão e servem-se dos médiuns para poderem comunicar-se com os
obsessores. Apegados à matéria e à vida terrena, os obsessores necessitam de
sentir-se seguros no meio mediúnico, envolvidos nos fluidos e emanações
ectoplásmicas da sessão, para poderem conversar de maneira proveitosa com os
Espíritos esclarecedores. Basta esse fato, comum nas sessões bem orientadas,
para mostrar que a doutrinação humana dos espíritos desencarnados é uma
necessidade.
Pensemos um pouco no que ficou
dito sobre relação e evolução. Os planos espirituais são superpostos. A partir
da Terra, constituem as chamadas esferas da tradição espiritualista europeia,
segundo o esquema da Escala Espírita (O Livro dos Espíritos)
como regiões destinadas aos vários graus ou ordens dos Espíritos. Essas esferas
ou planos espirituais são mundos que se elevam ao infinito. Quanto mais elevado
o mundo, mais distanciado está do nosso mundo carnal. A doutrinação existe em
todos os planos, mas o trabalho mais rude e pesado é o que se processa em nosso
mundo, onde os espíritos dos mundos imediatamente superiores vêm colaborar
conosco, ajudar-nos e orientar-nos no trabalho doutrinário. Orgulhoso e inútil,
e até mesmo prejudicial, será o doutrinador que se julgar capaz de doutrinar
por si mesmo. Sua eficiência depende sempre de sua humildade, que lhe permite
compreender a necessidade de ser auxiliado pelos bons Espíritos. O doutrinador
que não compreende esse princípio precisa de doutrinação e esclarecimento, para
alijar de seu espírito a vaidade e a pretensão. Só pode realmente doutrinar
Espíritos quem tiver amor e humildade.
Mas é importante não
confundirmos humildade com atitudes piegas, com melosidade. Muitas vezes a doutrinação
exige atitudes enérgicas, não ofensivas ou agressivas, mas firmes e imperiosas.
É o momento em que o doutrinador, firmado em sua humildade natural — decorrente
da consciência que tem das suas limitações humanas — trata o obsessor com
autoridade moral, a única autoridade que podemos ter sobre os Espíritos
inferiores. Estes sentem a nossa autoridade e se submetem a ela, em virtude da
força moral de que dispusermos. Essa autoridade só a conseguimos através de uma
vivência digna no mundo, sendo sempre corretos em nossas intenções e em nossos
atos, em todos os sentidos. As nossas falhas morais não combatidas, não
controladas, diminuem a nossa autoridade sobre os obsessores. Isso nos mostra o
que é a moral: poder espiritual que nasce da retidão do
espírito. Não
se trata da moral convencional, das regras da moral social, mas da moral
individual, íntima e profunda, que realiza a integração espiritual do ser
voltado para o bem e a verdade.
Mas essa integração não se
consegue com sistemas ou processos artificiais, com reformas íntimas impostas
de fora para dentro, como geralmente se pensa. Existe a moral exógena, que nos
é imposta de fora pelas conveniências da convivência humana. Essa moral
exógena, pelo simples fato de se fundar em interesses imediatos do homem e não
do ser é a casa construída na areia segundo a parábola evangélica. A moral de
que necessitamos é endógena, vem de dentro para fora, brota da compreensão real
e profunda no sentimento da vida. É a moral espontânea, determinada por uma
consciência esclarecida que não se rende aos interesse imediatistas da vida
social. Este é um problema em que precisamos pensar, meditar a sério e a fundo
para podermos adquirir a condição de doutrinar com eficiência, dando amor,
compreensão e estímulo moral aos Espíritos inferiores. O Espiritismo, como
acentuou Kardec, é uma questão de fundo e não de forma.
A doutrinação praticada com plena
consciência desses princípios atinge o obsessor, o obsedado, os assistentes
encarnados e desencarnados e, particularmente, o próprio doutrinador, que se
doutrina a si mesmo, doutrinando os outros. Note-se a importância
e o alcance de uma doutrinação assim praticada. É ela a alavanca com que
podemos deslocar a mente do charco de pensamentos e sentimentos inferiores,
egoístas e maldosos em que se afundou. É, por isso mesmo, a alavanca com a qual
podemos mover o mundo, como queria Arquimedes, para colocá-lo na órbita do
Espírito. Devemos utilizar essa alavanca em todos os instantes – no silêncio da
nossa mente, na atividade incessante do nosso pensamento, na conversação séria
ou até mesmo fútil, nas relações com o próximo, nas discussões dos mais
variados problemas, na exposição dos princípios doutrinários aos que desejam
ouvir-nos, numa carta, num bilhete, numa saudação social –, mas sempre com
discrição, sem insistências perturbadoras, sem carranca e seriedade formal. O
primeiro sintoma da contenção desse problema é a alegria que nos ilumina por
dentro e se irradia ao nosso redor, contagiando os outros. Porque a vida é uma
bênção e portanto é alegria e não tristeza, jovialidade e não carrancismo.
Não estamos na vida para sofrer,
mas para aprender. Cada dificuldade que nos desafia é uma experiência de
aprendizado. O sofrimento é consequência da nossa incompreensão da finalidade
da vida. Desenvolvendo a razão no plano humano, o ser se envaidece com a sua
capacidade de julgar e comete os erros da arrogância, da prepotência, da
vaidade, da insolência. Julga-se mais dotado que os outros e com mais direitos
que eles. Essa é a fonte de todos os males humanos. A doutrinação espírita,
equilibrada, amorosa, modifica a nós mesmos e aos outros, abre as mentes para a
percepção da realidade-real que nos escapa, quando nos apegamos à ilusão das
nossas pretensões individuais, geralmente mesquinhas. Foi isso o que Jesus
ensinou ao dizer: “Os que se apegam à sua vida perdê-la-ão, mas os que a perderam
por amor a mim, esses a encontrarão”.
A meditação sincera e
desinteressada sobre estas coisas é o caminho da nossa libertação e da
libertação dos outros. Só aquele que está livre pode libertar.
2 — Psicologia da doutrinação
O doutrinador deve ler e reler,
com atenção e persistência, a ESCALA ESPÍRITA (n’ O Livro dos
Espíritos) para bem informar-se dos tipos de Espíritos com que vai
defrontar-se nas sessões. A escala nos oferece um quadro psicológico da
evolução espiritual, que podemos também aplicar aos encarnados. No trato com os
Espíritos, o conhecimento desse quadro facilita grandemente a doutrinação. Os
Espíritos inferiores usam geralmente de artimanhas para nos iludirem e se
divertem quando conseguem, prejudicando-se a si mesmos e fazendo-nos perder
tempo. Temos de encará-los sempre como necessitados e tratá-los com o desejo
real de socorrê-los. Mas precisamos de psicologia para conseguirmos ajudá-los.
A tipologia que a Escala nos oferece é de grande valia nesse sentido. Por outro
lado, a leitura dos casos de doutrinação relatados por Kardec na Revista Espírita nos oferece exemplos valiosos de como
podemos nos conduzir, auxiliados pelos Espíritos protetores da sessão, para
atingir bons resultados.
A prática da doutrinação é uma
arte em que o bom doutrinador vai se aprimorando na medida em que se esforça
para dominá-la. Enganam-se os que pensam que basta dizer aos Espíritos que eles
já morreram para os sensibilizar. Não basta, também, citar-lhes trechos
evangélicos ou fazê-los orar repetindo a nossa prece. É importante também
explicar-lhes que se encontram em situação perigosa, ameaçados por Espíritos
malfeitores que podem dominá-los e submetê-los aos seus caprichos. A ameaça de
perda da liberdade os amedronta e os leva geralmente a buscar melhor
compreensão da situação em que se encontram. Mas não se deve falar disso em tom
de ameaça e sim de explicação pura e simples. Muitos deles já estão dominados
por Espíritos maldosos, servindo-lhes de instrumentos mais ou menos
inconscientes. O médium que recebe a entidade sente as suas vibrações, percebe
o seu estado e pode ajudar o doutrinador, procurando absorver os seus ensinos.
Através da compreensão do médium o Espírito sofredor ou obsessor é mais
facilmente tocado em seu íntimo e desperta para uma visão mais real da sua própria situação. Doutrinador e médium formam um conjunto que,
quando bem articulado, age de maneira eficiente para a entidade.
O doutrinador deve ter sempre em
mente todo esse quadro, para agir de acordo com as possibilidades oferecidas
pela comunicação do Espírito. Com os Espíritos rebeldes, viciados na prática do
mal, só a tríplice conjugação da autoridade moral do doutrinador, do médium e
do Espírito protetor poderá dar resultados positivos e quase sempre imediatos.
Se o médium ou o doutrinador não dispuser dessa autoridade, o Espírito se
apegará à fraqueza de um deles ou de ambos para insistir nas suas intenções
inferiores. Por isso Kardec acentua a importância da moralidade na relação com
os Espíritos. Essa moralidade, como já dissemos, não é formal, mas substancial,
decorre das intenções e dos atos morais dos praticantes de sessões, e não
apenas nas sessões, mas também em todos os aspectos de suas vidas.
Os Espíritos sofredores são mais
facilmente doutrinados, pois a própria situação em que se encontram favorece a
doutrinação. Se muito erraram na vida terrena, permanecendo por isso em
situação inferior, o fato de não se entregarem à obsessão depois da morte já
mostra que estão dispostos a regenerar-se. Só a prática abnegada da
doutrinação, com o desejo profundo de servir aos que necessitam, dará ao médium
e ao doutrinador a sensibilidade necessária para distinguir rapidamente o tipo
de Espírito com que se defrontam. O doutrinador intuitivo aprimora rapidamente
a sua intuição, podendo perceber, logo no primeiro contato, a condição do
Espírito comunicante. A psicologia da doutrinação não tem regras específicas,
dependendo mais da sensibilidade do doutrinador, que deverá desenvolvê-la na
prática constante e regular. Mesmo que o doutrinador seja vidente, não deve
confiar apenas no que vê, pois há Espíritos maus e inteligentes que podem
simular aparências enganadoras, que a percepção psicológica apurada na prática
facilmente desfará. Não é preciso ser psicólogo para doutrinar com eficiência,
mas é indispensável conhecer a ESCALA ESPÍRITA, que nos dá o conhecimento
básico indispensável.
3 — Os recém-desencarnados
As manifestações de Espíritos
recém-desencarnados ocorrem com frequência nas sessões destinadas ao socorro
espiritual. Revelam logo seu estado de angústia ou confusão, sendo facilmente
identificáveis como tal. Muitas vezes são crianças, o que provoca estranheza,
pois parecem desamparadas. Quando esses Espíritos se queixam de frio, pondo às
vezes, o médium a tremer, com mãos geladas, é porque estão ligados mentalmente
ao cadáver. Se o doutrinador lhes disser cruamente que morreram, ficam mais
assustados e confusos. É necessário cortar a ligação negativa, desviando-lhes a
atenção para o campo espiritual, fazendo-os pensar em Jesus e pedir o socorro
do seu Espírito protetor. Trata-se a entidade como se ela estivesse doente e
não desencarnada. Muda-se a situação mental e emocional, favorecendo a sua
percepção dos bons Espíritos que a cercam, e em poucos instantes a própria
entidade percebe que já passou pela morte e que está amparada por familiares e
Espíritos que procuram ajudá-la.
Nos casos de crianças
desamparadas que chamam pela mãe, o quadro é tocante, emocionando as pessoas
sensíveis. Mas a verdade é que essas crianças estão assistidas. O fato de não
perceberem a assistência decorre de motivos diversos: a incapacidade de
compreender por si mesmas a situação, a completa ignorância do problema da
morte em que foram mantidas ou consequências do passado reencarnatório em que
abandonaram as crianças ao léu ou mesmo que as mataram. A reação moral da lei
de causa e efeito as obriga a passar pelas mesmas condições a que submeteram
outros seres em vida anterior. O doutrinador deve lembrar, nessas ocasiões, que
o mundo espiritual é perfeitamente organizado e que essas provas de resgate e
ensino passam rapidamente. Tratado com amor e compreensão, esses Espíritos logo
percebem a presença de entidades que na verdade já o socorriam e a levaram à
sessão para facilitarem a sua percepção do socorro espiritual. Ninguém fica ao
desamparo depois da morte. Essas mesmas situações chocantes
representam socorro ao Espírito para despertar-lhe a piedade que não teve em
vida.
Quanto às manifestações de
crianças que são consideradas como Espíritos pertencentes às legiões infantis
de socorro e ajuda, o doutrinador não deve deixar-se levar por essa aparência,
mas doutrinar o Espírito para que ele se retorne com mais facilidade à sua
posição natural de adulto, o que depende apenas de esclarecimento doutrinário.
As correntes de crianças que se manifestam nas linhas de Umbanda e outras
formas de mediunismo popular são formadas por Espíritos que já estão capazes de
ser encaminhados como Espíritos adultos no plano espiritual. Se lhe dermos
atenção, continuarão a manifestar-se dessa maneira, entregando-se a simulações
que, embora sem intenções malévolas, prejudicam a sua própria e necessária
reintegração na vida espiritual de maneira normal. Esses Espíritos, apegados à
forma carnal e que morreram (como crianças), entregam-se a fantasias e ilusões
que lhes são agradáveis, mas que, ao mesmo tempo, os desviam de suas obrigações
de após-morte. O mesmo acontece com Espíritos que se manifestam como debilóides
ou loucos. Precisam ser chamados à razão, pois entregam-se comodamente à lei de
inércia, querendo continuar indefinidamente como eram na sua encarnação já
finda. Ocorre o mesmo no caso de Espíritos que se manifestam em condições
larvares ou animalescas. O doutrinador não pode aceitá-los como se apresentam,
pois estão simplesmente tentando fugir às suas responsabilidades, através de
ardis a que se apegam e com os quais muitas vezes se divertem.
Todos os Espíritos, ao passarem
pela morte, têm o dever de reintegrar-se na posse de sua consciência e dos seus
deveres. Gozando do seu livre arbítrio, apegados a condições que lhes parecem
favoráveis para viverem à vontade, entregam-se a ilusões que devem ser
desfeitas pela doutrinação. É para isso que são levados às sessões, e não para
serem acocados em suas fantasias. Os Espíritos que os protegem recorrem ao
ambiente mediúnico para que eles possam ser mais facilmente chamados à
realidade, graças às condições humanas em que mergulham no fluido mediúnico das
sessões.
4 — Santos, diabos e clérigos
Nas manifestações mediúnicas da
era apostólica, no chamado culto pneumático dos apóstolos e seus discípulos,
era frequente a manifestação de Espíritos diabólicos, com pesadas injúrias a Jesus
e a Deus, como contam os historiadores do Cristianismo primitivo. O apóstolo
Paulo trata desse culto na I Epístola aos Coríntios, no tópico referente aos
dons espirituais. O nome de culto pneumático deriva da palavra grega pneu, que significa sopro, espírito. Nas sessões espíritas
atuais surgem as manifestações de santos, diabos e padres, geralmente
condenando as práticas espíritas. Os doutrinadores precisam de habilidade para
distinguir os brincalhões e os mistificadores das entidades ainda realmente apegadas
às funções religiosas que exerceram em sua vida terrena. Os supostos santos
usam uma linguagem melíflua, carregada de falsa bondade, com que pretendem
iludir os participantes ingênuos das sessões. O doutrinador precisa lembrar-se
que, se eles fossem realmente santos, não viriam combater as sessões mediúnicas
e os ensinos mediúnicos de Jesus. Não devem perder muito tempo com eles. Basta
mostrar-lhes que estão em mau caminho e que nada conseguirão com suas manhas.
Os diabos aparecem sempre de maneira grotesca, procurando fazer estardalhaço,
ameaçando e roncando como bichos. Com paciência e calma, mas sem lhes dar
trelas, o doutrinador os afastará logo. Os Espíritos de padres e freiras,
frades e outros clérigos são mais insistentes, querendo discutir sobre interpretações
evangélicas. O melhor que se pode fazer é convidá-los a orar a Jesus. Embora
manhosos, são Espíritos necessitados de ajuda e esclarecimento. Com sinceridade
e amor são facilmente doutrináveis. Mais raras são as manifestações de pastores
protestantes e de rabinos judeus, mas também ocorrem. Manifestam-se sempre
demasiadamente apegados a letras dos textos bíblicos e evangélicos. Inútil
entrar em discussão com eles. Tratados com amor e sinceridade acabam
retirando-se, já entregues a antigos companheiros de profissão, mais
esclarecidos, que geralmente os trouxeram à sessão mediúnica para aproveitar as
facilidades do ambiente. A doutrinação tem o duplo poder da
verdade e do amor, a que eles não podem resistir por muito tempo. Alguns
costumam voltar com insistência em várias sessões. Devem ser sempre recebidos
com espírito fraterno e com a intenção pura de auxiliá-los. Sabemos que, nos
planos inferiores da Espiritualidade, os Espíritos encontram situações
favoráveis à continuidade de suas atividades terrenas. A natureza não dá
saltos. O Espírito que deixou o corpo sente-se, em seu corpo espiritual, em
relação com Espíritos de sua mesma condição. Integram-se num meio adequado às
suas ideias e continuam a experiência terrena em condições muito semelhantes à
da Terra. O doutrinador precisa compreender bem esse problema, lendo e
estudando as obras de Kardec, onde os Espíritos Superiores colocaram esses
problemas de maneira bastante clara. Nossa função nas sessões é ajudar essas
criaturas a se libertarem do passado, integrando-se na realidade espiritual que
não atingiram na vida terrena, enleados nos enganos e nas ilusões de falsas
doutrinas.
Outros tipos de manifestações,
como as de Espíritos de negros velhos e de índios ligados a suas religiões
primitivas, não raro perturbam os doutrinadores sem experiência. Não são
mistificadores, mas entidades que continuam apegadas à forma física e a ideia
que tiveram na Terra. Os mistificadores logo se revelam, como ensina Kardec,
deixando aparecer a ponta da orelha por baixo do chapéu ou da cabeleira. Não é
justo nem cristão expulsá-los ou ofendê-los de qualquer maneira. Paciência e
amor são sempre os ingredientes de uma doutrinação eficiente. Quando se mostram
demasiado renitentes, perturbando os trabalhos, o melhor é chamar o médium a si
mesmo, fazendo-o desligar-se do Espírito perturbador. Geralmente ele voltará em
outras sessões, mas então já tocado pelo efeito da doutrinação e desiludido de
sua pretensão de dominar o ambiente. O episódio serve também para reforçar a
confiança do médium em si mesmo, demonstrando-lhe que pode cortar por sua
vontade as comunicações perturbadoras.
5 — A teledoutrinação
Os corações amorosos, em todos os
tempos, apelaram à oração para socorrer à distância os entes queridos. Das
práticas mágicas primitivas, nascidas na selva, nas regiões polares, nos
desertos e na vastidão dos mares, o homem passou, nas civilizações agrárias e
pastoris, às rogativas dirigidas aos deuses. Da forma de ação direta da magia
selvagem – principalmente a simpática ou simpatética, baseada na ideia das
relações por semelhança, a mente mais experiente e desenvolvida passava à ação
indireta das rogativas. A ação direta é mágica. Não pertence ao campo da
Religião, mas ao da Magia. O Homo Faber, ou seja, o
homem que confia na sua capacidade de fazer, havendo descoberto relações de
semelhança (simpáticas) entre coisas e seres, acreditava poder agir diretamente
à distância sobre inimigos e amigos através das relações de semelhança. O Homo Sapiens, ou seja, o homem interessado em saber, buscava
conhecer um tipo superior de relações – o mental e emocional, ligando seus
deuses (bons Espíritos) aos quais dirigia suas rogativas. Assim nasceram as
Religiões, arrancadas pelo espírito das entranhas materiais da Magia.
Nos povos mais adiantados da Antiguidade
— entre os quais se destacaram, nesse campo, os egípcios, os gregos, os judeus,
os arianos da Índia, os chineses e os celtas — a utilização da mediunidade nas
práticas oraculares acelerou o desenvolvimento espiritual da Humanidade. Essa
aceleração produziu o refinamento intelectual, restrito às elites culturais, e
transformou o acervo de experiências das práticas mágicas em formulações
teológicas e elaborações litúrgicas e rituais, doiradas com a purpurina dos
sofismas e das pretensões teológicas. As ordenações e as sagrações encheram o
mundo civilizado de instituições supostamente sagradas, em que permanecem até
hoje os resíduos mágicos das selvas. Essas Religiões e Ordens Ocultistas estão
carregadas de conceitos absurdos sobre a vida e a morte, com cerimoniais
especialmente preparados para influir na credulidade das criaturas ingênuas ou
sensíveis.
A Idade Média europeia,
acompanhada dos períodos medievais diferenciados em outras partes do mundo,
gerou o fanatismo religioso e as guerras de religião, as mais impiedosas e
brutais, feitas em nome de Deus, cujo conceito era recortado do modelo bíblico
de Iavé, o deus dos Exércitos das bárbaras conquistas judaicas. O Cristianismo
se transformou numa superestrutura cultural fundamentada na magia primitiva do
sangue, com todas as consequências falsas e desumanas de uma Ciência do Absurdo
— a Teologia, Ciência dos homens que tinham Deus como objeto. A reação
dialética era inevitável e o aceleramento cultural, regido pelas leis do
espírito, gerou a revolta científica do Renascimento, da Era da Razão.
Só nos Séculos XVIII e XIX
abriram-se as perspectivas para uma compreensão racional, e portanto humana,
das relações espirituais entre Deus e o homem. E só a pesquisa espírita e
sacrificial de Kardec conseguiu romper o nevoeiro restante das pesadas trevas
teológico-medievais. Espantado o nevoeiro, Kardec pôde oferecer ao mundo o
conceito da telegrafia humana, no qual o problema da
oração, tomado no sentido mais simples da palavra prece, restabelecia
a verdade sobre a natureza humana e suas relações com Deus.
Ao mesmo tempo, descobria-se a
existência das relações humanas à distância, da telegrafia
humana, tão simples e natural como as que então ocorriam através do
telégrafo elétrico. Nesse processo telegráfico aparentemente mental os homens
podiam comunicar-se entre si através de todas as distâncias, inclusive as até
então insuperáveis distâncias da morte. E o problema da morte, em que até hoje
as Igrejas se confundem e se embaralham, tornava-se claro à compreensão de
qualquer criatura de bom senso.
Essa expressão comum — o bom
senso —, plebeia, popularesca, transformada pelo vulgo em medidazinha de bolso
dos moralistas de esquina, Kardec transformou em critério de verdade. Era um
escândalo falar em bom senso entre as alucinações teológicas da época e a
loucura fecunda dos cientistas. Descartes o fizera num desafio de espadachim,
num golpe de ironia contra os teólogos, mas Kardec o fazia numa tomada de
posição no campo da Verdade. O bom senso, que até então só
servira como recurso de acomodação dos medíocres às regras banais da moral
burguesa, entre os flocos de algodão da hipocrisia, transformava-se em bússola
de navegantes audaciosos em mares nunca dantes navegados. E Kardec mostrou sem alardes, com a tranquilidade
do sábio, que essa expressão humilde e desprezada era a própria chave do
futuro. Não era através de golpes de imaginação, de inspirações e intuições
maravilhosas, mas da observação e da pesquisa científica dos fenômenos que se
podia arrancar a verdade sobre o homem, a vida e a morte; o destino da
civilização é obter uma concepção lógica de Deus. A realidade total só nos era
acessível através desse point d’optique, desse centro
visual em que todo o Cosmos se refletia; a descoberta da telegrafia
humana não havia sido um golpe de gênio, nem um relâmpago da sabedoria
infusa dos teólogos, mas um resultado de pesquisas minuciosas e teimosas, na
carne e no espírito de criaturas ingênuas e simples.
Hoje as pesquisas
parapsicológicas e biofísicas, em plena era cósmica, comprovam a realidade da telegrafia humana com a expressão científica da telepatia,
que diz exatamente o que Kardec proclamava no seu tempo, há mais de um século.
Telepatia não é apenas transmissão do pensamento, mas de todo o pathus individual da criatura, que se define também como
projeção do eu. É graças a essa projeção espiritual
que podemos falar em teledoutrinação, ou seja, em doutrinação à distância.
Kardec relata na Revista Espírita a cura de uma jovem
obsedada, cuja família católica não permitia sua frequência a sessões
espíritas; à revelia da família e da própria jovem, formou-se um pequeno grupo
de amigos que passou a reunir-se todos os dias, em hora determinada, emitindo
pensamentos de ajuda e orientação espiritual a ela e às entidades
perturbadoras. A moça foi curada sem tomar conhecimento desse fato.
Experiências atuais de telepatia, realizadas por pesquisadores ingleses, como
os professores universitários C. G. Soal, Wathely Carrington e Price, bem como
por pesquisadores norte-americanos, como Rhine, Pratt e Puharicch, e
pesquisadores soviéticos como Prof. Vassiliev e o grupo de pesquisas da
Universidade de Kirov, confirmaram plenamente o êxito dessas
intervenções à distância. Chegaram mesmo a comprovar a possibilidade de ação
hipnótica à distância, por meio da telepatia. A Ciência Espírita tem hoje a
sanção da Parapsicologia, através de experiências e pesquisas realizadas nos
maiores e mais importantes Centros Universitários do mundo.
Dessa maneira, o costume
aparentemente ingênuo de se colocar o nome e endereço de pessoas necessitadas
na mesa de sessões espíritas, para que sejam beneficiadas à distância, não só
pelos métodos espirituais de cura mas também pelo afastamento de entidades
perturbadoras e obsessoras, integra-se hoje no campo das realidades científicas
comprovadas. O Espiritismo se firma como a primeira Ciência do paranormal, de
cujos flancos chicoteados pela sapiência arrogante e falsa do materialismo e do
religiosismo fanáticos, nasceram as disciplinas científicas modernas e
contemporâneas da Parapsicologia, da Psicofísica e da Metapsíquica de Richet.
As práticas de ação à distância
podem ser individuais ou em grupos, dependendo a sua eficácia unicamente da boa
vontade e da intenção real e firme de auxiliar os necessitados.
As pessoas que hoje ainda
consideram essas práticas de solidariedade humana como utópicas ou
supersticiosas, por mais credenciadas que sejam culturalmente, revelam falta de
atualização científica ou, o que é pior, preconceitos inadmissíveis em nosso
tempo.
As pessoas que pretendem reduzir
a fenomenologia paranormal a manifestações de faculdades humanas sem
intervenção de entidades espirituais contrariam a realidade científica mundialmente
comprovada, pretendendo colocar suas opiniões pessoais e seus preconceitos
acima das rigorosas comprovações científicas atuais. Trata-se de pretensão
evidentemente exagerada. As que se apoiam em crenças e dogmas religiosos para
se oporem a essa realidade são espíritos sistemáticos. O Espiritismo, como
Kardec afirmou, é contrário ao espírito de sistema, fundamentando seus
princípios na observação e na pesquisa. Fatos são fatos e só podem ser negados
por pesquisas científicas rigorosas, realizadas por cientistas qualificados.
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